sábado, 8 de agosto de 2009

Manifesto à lingua

Neste mundo, tantas vezes banal e superficial, temos a linguagem. A linguagem, que não serve apenas para nos comunicarmos. A linguagem,que se junta com a forma,com a escrita, com o som, com o desenho, em uma arte abrangente e rica. Uma arte que pode utilizar de palavras corriqueiras para tocar e emocionar. Para simplesmente dizer. E ser ouvido. Que neste mundo em que todos dizem precisar de amor, por que não se fala em precisar de palavras? Palavras essas que descrevem outros tantos sentimentos sem nome, que descrevem tudo da forma mais humana e profunda que podem alcançar.

Que salve então, todos aqueles que descrevem e dizem tudo o que pensam, com palavras. Sem se importar com regras ou convenções. Que se expressam e se mostram, desvendem-se a si mesmos e aos outros da forma mais bela e coerente que podem. Salve Saramago! Salve Leminski! Salve Caio Fernando Abreu! Salve o poeta gentileza! Salve Guimarães! Aquele, que mostrou o Brasil da forma mais pura e clara. Que nos mostrou o Brasil. Que mostrou o Brasil até para quem não queria enxergar. Foi em seu ímpeto e tocou a todos, sem se importar com convenções. E todos o ouviram, e o entenderam. Tornou mais simples e humilde, algo que foi (e ainda é) considerado muito solene.

Que a arte de falar e ouvir, portanto, seja valorizada. . Que possamos nos tornar seres que não colocam dinheiro, matéria, capital à frente da expressão; à frente de nossa própria primitividade, a lingua. Que a tecnologia e o luxo não tomem o homem e sua capacidade de criar. Que o lixo não cubra aquilo que já foi escrito. Que o homem continue a evoluir a partir de sua capacidade de criar e se descobrir. Que os livros não se estinguam, que as ideias alheias sejam respeitadas. Que haja literatura e possibilidade de aprender para todo e qualquer ser humano. Que a literatura e a educação não seja elitizada e que seja, sim, motivo de festividades. Que a arte de ensinar seja mais valorizada do que qualquer máquina de construir. E que isso não seja uma utopia.

Que usemos, então, a nossa amada língua. Que nela seja feita a esperança. "A esperança de tudo saber", como já diria o poeta. Que nós saibamos que tudo conseguiremos com ela, que é ela que nos constrói, nos consome,nos faz quem somos. Somos o que somos, dizendo.

4 comentários:

  1. Agora eu entendi o seu desejo por letras!Não sei se você continua com ele, mas se continua...está bem encaminhado
    ;D

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  2. Pra mim, palavras às vezes são limitadas sabe?
    A linguagem vai além delas, muito além.

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  3. Penso que é justamente a linguagem em todas as suas formas que muitas vezes nos limita e nos faz crer na ilusão de que há algo além do primitivo em nós. E que o primitivo deve ser encarado como belo e natural para que se possa entrar em equilíbrio consigo mesmo. A linguagem é nada mais que uma ferramenta e a crença cega nela torna o nosso pensamento viciado. Acho que isso tem muito a ver com o que o Fernando Pessoa falava sobre a busca de uma estética não-aristotélica, algo que entenda que a verdadeira transcendência da arte está em negar, quer dizer, não se prender as ferramentes que ela usa e valorizar e explicitar o sentimento que transmite. O fantástico é ele ter conseguido o fazer em sua obra em diversas ocasiões, principalmente depois de ter entrado em contato (pois segundo ele era um contato com algo quase que exterior a ele) com o "Mestre Caeiro", cujos poemas encarnam perfeitamente, entre outras perfeições, esse sentimento e essa idéia.

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