segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Doce Ilusão

Getúlio Vargas ficou para a história do Brasil como o “Pai dos pobres”. O ditador brasileiro recebeu tal status por ter sido o nosso primeiro governante a dar reais benefícios às classes sociais menos favorecidas. Essa bonita história esconde, porém, os interesses manipuladores de Vargas, a barbárie em que vivia a sociedade da época e vivemos e o título dado por um setor mais crítico da sociedade, tão merecido quanto o primeiro, de “Mãe dos ricos”.
Getúlio, assim como os outros governantes considerados populistas, tornou-se muito popular entre os trabalhadores devido aos privilégios que a eles concedeu. E, a partir dessa popularidade, Getúlio os manipulou. O ditador viveu num mundo onde o movimento trabalhista era forte em quase todos os países. Por meio dessas lutas, o proletariado passou a conquistar certas regalias. Contudo, para alcançá-las, era necessário ter uma excelente organização e pessoas com consciência de classe. O Brasil que iniciava a sua explosão industrial com Getúlio também passaria, em algum momento, por tal situação. Entretanto, na medida em que Vargas dá ao povo todos esses privilégios e reformula todos os sindicatos, tirando todos aqueles considerados subversivos, nosso proletariado se tornou pouco combativo.
Não é à toa que Getúlio também pode ser chamado de “Mãe dos ricos”. Além de usufruir da infra-estrutura criada pelo Estado getulista, o empresariado se acostumou a trabalhar, ou melhor, a explorar o seu empregado sem que ele pudesse se organizar e lutar por melhores condições. Afinal, mesmo tendo seus méritos, a CLT feita por Vargas é uma cópia das leis trabalhistas criadas pelo ditador italiano Mussolini, também preocupado em manipular o povo italiano, desenvolver a indústria e o seu projeto fascista. Outro fato que exibe o caráter manipulador de Getúlio e a sua preocupação com o empresariado é a sua contribuição na criação de dois partidos distintos que representam classes sociais antagônicas, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), representante dos trabalhadores e o PSD (Partido Social Democrático), defensor dos interesses da burguesia.
A adoração àquele que manipulou descaradamente, mas fez, eliminou toda oposição preocupada com as causas sociais em nome do progresso, mas fez, aproxima-se ao carinho paulistano ao “Rouba, mas faz” de Paulo Maluf. É claro que estamos num estado crítico, afinal, mesmo sabendo de todos esses fatos, adoramos políticos corruptos e claramente manipuladores. Contudo, é tão claro quanto o que acabou de ser dito que essas adorações são reflexos de um povo desiludido e sem ídolos. A falta de ícones populares faz com que passemos a adorar certos mitos, folclores sobre pessoas que não merecem tal reconhecimento a partir de ilusões criadas de modo proposital, como a feita sobre Getúlio Vargas.