terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qual é a várzea?

Quantas vezes já ouvimos dizer: “Ah, se fosse na várzea!”? Sem dúvida foram muitas. Aquele que avalia essa frase como apenas uma exaltação do ego dos locutores está um tanto quanto enganado.

Meus senhores, minha senhoras, sem nenhuma dúvida, os tempos mudaram e a várzea realmente não revela mais os craques de antigamente. Ela acompanhou o crescimento das cidades, foi modificada, substituída em parte pelas quadras de futsal e futebol society, dizem até que deixou de existir. Porém não me resta nenhuma dúvida, na várzea tudo ainda é diferente; hoje usam o seu nome em vão e a várzea ganhou uma nova conotação que agrega valores como falta de organização e de qualidade.

Poucos são os que sabem que a única coisa de “várzea” que o futebol de várzea tem realmente é a condição sofrível de seus campos sem tratamento, sem incentivo estatal ou privado, que ainda existem pela ação de poucas pessoas ou pequenos grupos que sempre atuam em alguns lugares. E as poucas ações privadas que existem ali não tem objetivo de devolver à várzea sua glória, torná-la novamente um seleiro de craques, mas sim de puro patrocínio para fins comerciais.

Quando se trata de paixão, amor e entretenimento ela é muito maior que qualquer outro lugar. São nos campos de terra batida e nas favelas que moleques tornam-se craques, assumem papéis e ganham a importância que muitas vezes não tem no seu cotidiano de trabalho. Há dois sábados atrás mesmo, um atacante de Guiné-bissau do time adversário ao meu teve o seu nome gritado no estádio depois de fazer o gol da classificação de seu time no torneio municipal “Jogos da cidade”.

Como um jovem nesse quesito e já tendo experimentado algumas vezes essa sensação de importância e valor, posso dizer que é na várzea onde o futebol prazeroso realmente acontece. Nos campos belos por onde as estrelas desfilam só podemos ver o interesse em suas cifras aumentarem cada vez mais, poucos são aqueles que resistem e levam a várzea para o campo.

Não me resta nenhuma dúvida de que com a comercialização do futebol profissional, bem como a sua globalização, com clubes perdidos e desorganizados, com jogadores desinteressados, com valores completamente questionáveis (não me refiro à economia) demonstram que as características que são atribuídas à várzea estão mais presentes no futebol profissional. E ao outro, bem mais aguerrido e cativante, o verdadeiro nome de futebol.

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