quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mais um modelo para a classe média paulistana

Dizem que somos incultos, malvestidos, que não contribuímos para a sociedade funcionar como um todo. Os ladrões são vagabundos que não vão atrás de empregos e os pivetes que vem pedir dinheiro no sinal são brutalmente calados, num ato de extremo desinteresse por um vidro negro e blindado.


Após uma festa, num Sábado à tarde, observei o modelo da classe média alta paulistana que só enxerga o que há sob seu nariz e adora palpitar e esculachar o que, para tais, não é bom, não é normal. Na verdade eu estava sem ter muito o que fazer e resolvi me sentar num banco para observar, observar...


O banco em que me sentei ficava exatamente na porta do casarão branco. Lá sorria, ou mandava um tímido oi para cada convidado que atravessava o jardim. Todos estavam realmente bem vestidos. Os homens exibiam suas camisas Pólo, acompanhadas de calças e sapatos visivelmente comprados recentemente num Shopping Center. Porém o que mais chamou minha atenção foi que a grande maioria dos homens vinha acompanhado de uma esposa maquiada e com roupas poucos chamativas e uma filha ou filho pequeno.


Pensei que aquilo pudesse ser um molde. Percebi que a maioria dos casais tinha um único filho, resultado provavelmente da falta de tempo dos pais que trabalham “duro” para manter seu status. São vidas planejadas, sempre com o freio de mão puxado. São adeptos ao liberalismo, mas acreditam numa maior repressão policial e aplaudem de pé quando vêem ações como as do capitão Nascimento no lugar mais próximo entre ricos e violência policial - o cinema - afinal estão protegidos fisicamente e visualmente em seus bairros, suas bolhas. Dizem-se pais modernos, mas a liberdade dos filhos vai até a calçada e “ai” dele se pisar com o pé sujo no tapete e se cursar algo que não de dinheiro na faculdade.


A partir dessas ações, é perceptível uma grande diferença no conceito de modernidade. Pai moderno não é aquele que dá um celular precocemente, ou joga vídeo-game com o filho. Pai moderno é aquele que da liberdade de escolher, ir e vir e mais do que tudo, confia na sua cria.


Sem dúvidas há a preocupação em passar uma imagem de família perfeita (unida, feliz e normal) para a criança. Esta absorve o discurso da família e juntamente com a imagem dos pais heróis, constrói uma grande dependência que pode se tornar perigosa, a partir do momento em que a criança só se sente segura ao lado dos pais. Além disso, passa a reproduzir a mesma linha de raciocínio dos pais que muitas vezes acaba sendo preconceituosa ou exime indivíduo e bolha de qualquer culpa, mesmo que a tenha.


Apesar das críticas, acho importante ressaltar que eu, ainda assim, vejo um grande potencial de mudança, tanto em algumas mentes realmente boas e inteligentes, quanto nos olhos brilhantes das crianças que estudam nos melhores colégios da cidade e se preparam para dar continuidade à elite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário