quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Será o Bilhete Premiado da Esquerda?

Que o PT passa por uma crise de identidade, dificilmente alguém pode negar. Tensão que acontece devido à diferença das suas ações em comparação com a ideologia que o fundou, a socialista. Depois de passar por diversos problemas, o partido tem no Pré-sal, um programa que pode recuperar as suas raízes esquerdistas.

Essa crise pode ser expressa pelo suposto envolvimento de membros do partido com o “mensalão”, pelos dollares escondidos na cueca do assessor parlamentar do membro do partido, José Nobre Guimarães, dos problemas em relação à eleição do presidente do partido, que gerou, também, a saída de diversos membros ilustres da sigla, além do recente arquivamento das acusações do presidente do Senado, José Sarney, que teve apoio de membros do PT no senado, inclusive do presidente da instituição, Ricardo Berzoini.

Componentes como Ivan Valente, Plínio de Arruda Sampaio, Heloísa Helena, Luciana Genro, Chico Alencar, Luiza Erundina, a ex-prefeita de São Paulo e os mais recentes, Senador Flávio Arns e Marina Silva, a ex-ministra do meio ambiente deixaram o Partido dos Trabalhadores nos últimos tempos.

A crise fica evidente na medida em que o presidente do partido faz uma declaração, que segundo Ricardo Berzoini, era mais uma recomendação a bancada petista do Senado, para que votassem a favor do arquivamento das acusações a José Sarney. E, o líder do PT no Senado, Aloísio Mercante, se recusou a ler a recomendação de Berzoini por discordar das suas posições. Isso se considerarmos que tratamos de acusações gravíssimas ao Presidente do Senado, entre elas, nepotismo, um suposto desvio da Fundação José Sarney e da omissão de uma propriedade de 4milhões de reais da Justiça Eleitoral.

Essa decisão fez com que Flávio Arns se sentisse envergonhado com a determinação do partido e da ação dos seus membros em relação ao arquivamento, pois, para ele, o partido rasgou e jogou no lixo as bandeiras éticas e transparentes que ajudaram a eleger o presidente Lula: “O poder e a ambição de se manter no poder mudaram o PT. Este não foi o partido que eu entrei há oito anos” disse Arns. Também fez com que o Senador Eduardo Suplicy mostrar o cartão vermelho a José Sarney, símbolo do futebol que representa a eliminação de um atleta dentro da partida, devido a alguma irregularidade cometida. Neste caso, porém, o “expulso” se tratava do Presidente do Senado, por causa das acusações que a ele foram feitas.

Os governos que antecederam ao de Lula foram os de FHC e de Fernando Collor de Melo. O partido dos trabalhadores e o atual presidente Luís Inácio, sempre apareceram com um discurso distinto ao dos dois citados. Tudo nos indicava que com a eleição do presidente petista, teríamos um fim às privatizações, porém, não foi o que aconteceu, contrariando, novamente, os ideais que fundaram o partido, que nos guiava a pensar em ações estatizantes, com empresas em campos chaves da economia sendo dirigidas pelo governo, com lucros restritos aos cofres da nação. No entanto, segundo a Wikipédia, o governo Lula privatizou cerca de 2,6 mil quilômetros de Rodovias Federais. Além das vendas dos Bancos do Estado do Ceará, do Maranhão e das Hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau.

Outro fator chocante é que até mesmo o nosso símbolo de empresa nacional, a Petrobras, tem investidores privados com boa parte das suas ações. No ano de 2003, primeiro ano da gestão de Lula, segundo a Folha de S. Paulo, a União tinha cerca de 55,7% das ações da Petrobrás. No entanto, em 2009, segundo Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, a participação da União nas ações da Petrobrás caiu para 32,2%. Isso porque estamos em um governo de um presidente que deveria representar a esquerda, os movimentos sindicais e não uma gestão com ações neoliberais.

Entretanto, o governo Lula pretende mudar essa política em relação ao Pré-sal, pois parece disposto a comprar mais ações da Petrobras. Porém, devemos tomar cuidado com essa medida, pois será a principal bandeira da provável candidatura a presidência de Dilma Rouseff nas eleições do ano que vem, enquanto tentaram deixar bem marcado que a campanha do PSDB será baseada nas privatizações do Pré-sal. Mas não sabemos se isso será usado apenas como campanha eleitoral, para depois o partido voltar a uma normalidade anormal de uma sigla fundada na causa trabalhadora, já que, dizer que petróleo é nosso é fácil, difícil é manter essa postura.

Um comentário:

  1. Borjão,muito bom texto. Vai ter o Haroldo Lima, diretor geral da Agencia Nacional de Petróleo no "Roda Viva" - segunda-feira, 14 de setembro de 2009 às 22h10 na TV Cultura, falando da questão do pré-sal. Se der pra você assitir, acho que vão aparecer tópicos bem relacionados com a questão política, fora a possibilidade de serem levantados outras polêmicas pertinentes para serem debatidas no VozDaGalera.

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