domingo, 13 de setembro de 2009

Maldito Vício

O vício é mesmo uma droga, e drogas, viciam. Mas desde quando alguém liga? O tráfico delas é uma das atividades mais rentáveis no mundo inteiro, e isso só engloba as ilegais. Esquecemos dos remédios, do álcool, do tabaco e de uma das drogas favoritas da humanidade, nosso querido cafézinho.

Pois é, o café é uma das drogas mais consumidas em todo mundo. É estranho pensar que de todos os venenos que existem por aí; cocaína, maconha, LSD, Mc Donalds; o que mais gostamos é aquela xicrinha de 50 ml de uma bebida amarga, quente a ponto de queimar a língua e que amarela os dentes.

Ta certo, ta certo... estou exagerando. Se fosse só isso eu não o idolatraria, nem eu nem mais da metade dos homens e mulheres do mundo, não somos tão otários assim. Afinal, vale a pena uns aninhos a menos e uns dentes um pouco mais escuros por um cafézinho depois do almoço. Melhor que isso! De vez em quando, cedinho de manhã, naqueles sábados nublados, antes mesmo do sol evaporar as gotinhas de orvalho debaixo das folhas, acordar e preparar o primeiro café do dia. Rejeito qualquer maquinário que tenhamos inventado para executar tal tarefa. Côo o meu café sozinho, afinal, se sou eu quem vai tomá-lo, nada mais justo do que eu mesmo fazê-lo.

O primeiro passo é separar uma folha de coador de papel. Antigamente, quando os coadores eram de pano, esse começo deveria ser mais divertido. Talvez nem fizesse tanta diferença, mas esses coadores novos, principalmente os recicláveis, me dão uma sensação muito artificial.

Depois é preciso enfiar a folha dentro do funil e por o pó lá dentro. Ah, adoro essa parte. Às vezes minha mãe compra uns cafés altamente luxuosos aqui em casa, de grãos selecionados, colhidos assim e torrados assado; isso sem falar dos cafés gourmets que aparecem no armário. Esses são especiais, alguns tem aroma de baunilha, outros de trufa de chocolate, amêndoas... Nunca resisto, sempre me flagro cheirando o coador depois e deixando escapar um longo suspiro... Hmmmmm...
Para ferver a água conto um copo para cada cinco medidas de pó. Aí encho a menor chaleira que consigo encontrar e a levo ao fogo mais alto possível, sempre tapada por um pires ou um prato. Não tenho muita paciência para ficar lá parado olhando, por isso faço de tudo para que essa parte seja o mais breve possível.

Quando a água começa a ferver encho a garrafa térmica com ela e despejo tudo de volta na chaleira. Aprendi isso com o meu pai, deixa o café mais quente; o mesmo vale para a xícara, caso queira apreciar a bebida em pequenos goles, sem pressa, para não queimar a boca.

Agora vem a parte que faz tudo valer a pena, a hora de coar. Encaixo o funil na boca da garrafa térmica e, lentamente, despejo a água que ainda insiste em borbulhar conforme cai da chaleira. No começo consigo ver o pó se misturando à água, depois de alguns instantes já está tudo enmingalzado, aquela água grossa, negra. O cheiro de café impregna o ar, como uma mixirica em uma sala de aula, ou uma dama da noite em uma noite de verão.

Não há nada como o cheiro de café sendo coado. Gosto de, agora, sentar e esperar, fechar os olhos por alguns instantes e sentir aquele aroma, forte, embriagante, sedutor.

Alguns minutos depois o café está pronto. Sirvo-o em uma pequena xícara e, em alguns poucos goles, acabo com ele. Olho para o relógio da cozinha, ainda são oito horas. “E agora”, penso, “o que faço até meio dia?” Maldito vício...

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