terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mera coincidência?

Sendo a maior potência econômica e de maior influência geopolítica no âmbito global, os Estados Unidos fazem com que seu discurso seja sempre amplamente difundido.

Já no pós-Primeira-Guerra-Mundial, quando viu sua economia emergir, devido à ausência da concorrência produtiva européia, o discurso estadunidense resplandecia de idéias favoráveis ao liberalismo econômico. Enquanto a economia crescia na década de 1910, o presidente dos Estados Unidos, na época o democrata Woodrow Wilson, adaptou seu discurso, ao ser prevenido por seus assessores que tal prosperidade iria entrar em colapso, de modo a propor uma regulação econômica, que diminuiria os lucros, mas preveniria o país de uma crise de super-produção.

É de conhecimento geral que ele não foi ouvido: a década de 20 foi predominantemente governada pelos republicanos de discurso liberal e foi uma literal "festa-do-caqui". Mas a Crise de 29 se sucedeu e foi a maior crise de toda a história do capitalismo moderno, em escalas de expansividade e gravidade.

Essa crise moldou mais uma vez a política, tanto interna como externa, do país: o partido republicano, representando a burguesia nacional, na figura do presidente Herbert Hoover, ficou paralisado, e para sustentar seus ideais liberais propunha que deixasse que o mercado se auto-regulasse. E isso durou três anos, de 29 à 32, quando houve eleições.

Por ter proposto como plano, plano nenhum, Hoover perdeu drasticamente as eleições de 32 para o conhecido 32º presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, um democrata, que vinha propondo mudanças.

Essa sucessão, de um discurso antigo por outro que promete novos paradigmas é exatamente a que aconteceu recentemente, mais uma vez nos Estados Unidos.

Como se não bastasse, foi novamente o discurso do Partido Republicano que faliu, e o Democrata que apareceu prometendo mudanças. Obama, "Yes, We Can", e todo o pressentimento, internacionalmente propagado, de que agora os Estados Unidos vai mudar.

Conta com grande apoio internacional, mas não com tão grande prestígio dentro de seu próprio país. Inclusive, um dos fatores que aumenta sua impopularidade nos próprios EUA é a estatização que seu governo apóia, do sistema de saúde, que custará aos cofres da receita mais de 1 trilhão de dólares. Essa atitude faz com que Obama seja inclusive taxado de comunista por alguns opositores de seu próprio país.

Barack Obama trouxe na última quarta feira, no seu discurso à Assembléia Geral da ONU quais seriam as mudanças pelas quais o seu governo, representando a nação estadunidense, apoiaria

O país que até hoje conquista, através de guerras ou de influência cultural, praticamente o mundo inteiro, através do processo que é chamado de globalização, têm no início de seu discurso :" Nenhuma nação pode ou deve tentar dominar outra nação".

É dito isso, frente à conclusão que "Nenhuma ordem mundial que eleve uma nação ou grupo sobre outra vai ser bem sucedida". Essa frase explica por que o mundo apóia o que Obama defende em tese, mas seu próprio país não. Não é fácil conciliar aos mais ferrenhos defensores da Liberdade, que o valor da Igualdade tem igual peso, pelo menos na conjuntura geopolítica atual.

Faz com que os estadunidenses se remetam ao Comunismo, que é ensinado como sendo um sistema de produção maldito nas escolas públicas de todo o sistema de ensino dos EUA desde o começo do século XX.

. A atual estratégia geopolítica dos Estados Unidos vai muito além das características típicas da chamada política do "Good Neighbor" de Delano Roosevelt e Harry Truman nas décadas de 30 e 40, ultrapassa as barreiras continentais e tenta abranger um nível global, demonstrando através de seus discursos, como o de Obama no Cairo em Junho desse ano. Os Estados Unidos não mantém todos as suas posturas, como a de defender Israel independente das ações do país, mas algumas outras não mudam, ao referir-se no discurso de quarta-feira à Ahmadinejad e à pretensão iraniana de enriquecer urânio.

Não é mera coincidência que foram as propostas intervencionistas de Keynes que guiaram o New Deal de Delano Roosevelt, que se desviavam da predominante ideologia liberal, as que foram aprovadas pelos Estados Unidos na década de 30. E nem que hoje é o discurso de Obama o que recebe aplausos homogêneos na platéia da Assembléia Geral da ONU. Mas tantas mudanças, com o objetivo esclarecido por Obama : " ...minha responsabilidade é agir em interesse de minha nação e de meu povo". Mas não deixa de aliviar com " É minha crença profunda de que, este ano mais do que qualquer outro da história, os interesses das nações e das pessoas são compartilhados".

O que parece uma série de grandes mudanças no que diz respeito à política externa, soa dissonante ao conservador revezamento do poder entre apenas dois partidos políticos nos Estados Unidos. Em que medida se pode chamar de democracia uma manutenção tão regrada entre dois partidos que chegam ao poder? Desde 1789, apenas nove anos foram governados por partidos que não um dos dois: ou o democrata ou o Republicano.

Isso se deve à maneira como idéias e estratégias políticas são amplamente difundidas e acatadas pela sociedade dos EUA e depois de acatadas, dificilmente submetidas à segundas análises?

Se percebe, na análise da conjuntura econômica do país, que se pode responder à essa pergunta com um "sim": Somente em momentos de crise econômica, é que o país exportador do consumista "American Way of Life" se mostra disposto a apoiar idéias novas. E idéias novas, mas de partidos tradicionais. Não é de se indagar o quão conservadoras são as mudanças por lá?

3 comentários:

  1. Kris, você realmente é um gênio. Não estou dizendo isso somente pelo texto, mas é incrível como você é bom em muitas coisas, inclusive em escrever. Parabéns!

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  2. páara com isso borgão! valeeu! orgulho tar fazendo parte do Voz com vocês

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  3. êê! mais hooooomem! rodeada! hahaha
    seja bem-vindo, querido.
    muito bom o texto.

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