sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Ressentimento que Oculta o Equipe

Antes de tudo, gostaria de esclarecer o motivo pelo qual fiz este texto. Como todos devem recordar um dos objetivos do Jornal “Impressão” feito pelo grêmio do colégio Equipe, é promover o diálogo entre as diferentes idéias através documentos escritos. Discordo de posições que foram publicas no texto cujo título é “Quão Críticos Somos Nós?” do companheiro Vitor Quarenta que por sinal tenho muita simpatia. As críticas serão desenvolvidas com o decorrer do ensaio que terá, antes, uma base teórica que fundamentou minha reflexão.

Nossa sociedade está, também, baseada em valores cristãos e gregos. Valores que marcam o jeito como nos relacionamos com tudo. Essa força cristã e grega fica evidente no momento em que o tempo é marcado antes e depois de Cristo e o pensamento, antes e depois de Sócrates. Porém, quais são as conseqüências disso?Quais as influências disso no Equipe?

Penso que uma cultura baseada nesses valores gera um desprezo ao mundo material no qual vivemos, priorizando um além mundo. A religião cristã propõe uma negação à vida, pois já nascemos com o pecado original. Somos culpados pela morte de cristo e, como disse Sant Thomas de Aquino, gerados entre fezes e urina. Por esse motivo, muitos passam a sua vida se confessando pensando em uma vida melhor após a morte, enquanto outros ficam apenas com o sentimento de culpa.

Por outro lado, Sócrates morre rindo, ironizando sua morte, pois estava pensando e valorizando o mundo das idéias, melhor que este mundo real. É o primeiro ocidental a negar a vida, pois Cristo morre sofrendo, enquanto Sócrates falece zombando a vida.

Isso gera o Niilismo, o nada. A cultura ocidental está baseada na negação da vida, no ressentimento, na moral dos escravos dessa moral reativa. Agimos com o intuito de reclamar, de reagir a essa cultura. Recusar essa cultura e seus valores é reagir a ela dentro dos seus próprios princípios. Isso hoje é confundido com a cidadania, pois, cidadão é aquele que reclama, têm direitos. Devemos afirmar valores e, como conseqüência, negar estes que aqui estão. Podemos, ainda, encarar as coisas de outra maneira, com uma visão positiva, pois a tentativa de modificar essa realidade com a reclamação nos levará a lugar algum.

Nietzsche, contudo, decretando a morte de Deus e, portanto, a moral que foi construída com base no Deus cristão, pode afirmar que “o homem é possível”. Podemos construir uma cultura que valorize a vida a partir de uma filosofia da imanência, da vida.

No entanto, o que será que isso tem a ver conosco, alunos do Equipe? Creio que essa cultura está muito presente entre nós também. Atos de reclamar por reclamar, para o meu entender, explicitam essa moral. Parece que percebemos a falta de algo e precisamos reclamar para nos sentirmos completos. Por este motivo, problemas pequenos se tornam gigantes, fazendo uma confusão do conceito de crítica e do ato de reclamar. A crítica aparece mais como uma afirmação de outros valores, pois é necessário propor uma solução, enquanto a reclamação é um símbolo do niilismo, simples negação.

Espinosa faz duras críticas ao modo como as pessoas se comportavam. Modo de agir baseado no ressentimento cristão, pois vivemos do julgamento dos outros, além do sentimento de culpa depois de momentos felizes. Tentamos justificar nossa vida através do sofrimento. Vivemos atrás desses afetos tristes com o intuito de nos satisfazermos. Não quero me colocar fora disso, pois também faço parte dessa sociedade, porém, é totalmente diferente se acomodar nessa posição ou, por outro lado, tentar agir de maneira distinta, procurando novos valores.

Por estes motivos, creio ser um absurdo comparar o discurso do Equipe com o de uma Usina de Açúcar, pois, isso é uma grande generalização do sistema no qual vivemos.Talvez, exceto quando era cursinho, o Equipe tem a 40 anos esse mesmo discurso. Logo, penso ser incoerente rebaixar o discurso da instituição a uma simples propaganda. Quando fazemos uma socialização, quem além dos nossos pais vem nos ver?Onde estão os novos “consumidores” da educação proposta pelo Equipe?

Se o único intuito dessa instituição fosse fazer propaganda para se ter novos alunos e ganhar mais dinheiro; por que não continuar como cursinho?Seu principal concorrente na época de cursinho está rico, o Objetivo. O Equipe não deixa de ser uma instituição no sistema capitalista que precisa de alunos para sobreviver, no entanto, isso não significa que tudo aqui é feito com este único foco. As pessoas podem ser guiadas por outros valores, não apenas o capital. Isso é, novamente, falar do homem a partir de um principio negativo.

Além disso, o Equipe possui um projeto para formar alunos com a capacidade crítica através de atividades direcionadas. Isso não implica que todos os alunos desenvolveram essa capacidade, contudo, acho difícil que isso não ocorra com aqueles que se envolvam com as atividades aqui propostas. É impossível adquirir isso apenas estando nesse local, esquecendo que aqui, somos estudantes.

O projeto de formação de monitores nos proporcionou um momento único, pois pudemos observar como o ensino aqui é direcionado desde os pequenos para que esses alunos desenvolvam certas habilidades.

Importante acrescentar que nos projetos e atividades do Equipe há sempre um momento de reflexão em que temos de olhar para nós de maneira direta ou indireta. O trabalho de Cubatão nos lançou a seguinte pergunta: Quanto o Equipe nos direciona? Será que isso não é um momento de crítica sobre nós? De uma reflexão sobre o discurso que baseia o Equipe? Pois, no momento do projeto, analisávamos o quanto o discurso da CEFET e do SENAI, escolas técnicas, direcionavam seus alunos

Apesar de todas essas afirmações, gostaria de expor um sentimento antagônico ao exposto nesse mesmo panfleto na última edição: sinto um medo de elogiar o Equipe! Não vejo o menor medo de criticar o Equipe, vejo isso com uma freqüência infinitas vezes maior por parte dos alunos. Com certeza o Equipe tem seus defeitos, entretanto, tem, principalmente, coisas muito boas.

A proposta deste texto certamente não é uma reclamação. Acredito que podemos afirmar novos valores e aproveitar esta instituição que facilita isso, pois nos dá uma grande liberdade. Propor um modo de encanar as coisas como as crianças, menos afetados que nós por esta cultura, e que, portanto, aceitam as coisas pelo prazer de fazê-las sem que haja uma reclamação anterior ao fato pode aparecer como um caminho.

2 comentários:

  1. Eu "acabei' de ler um texto de qualidade, que me fez pensar que tudo bem, existe a moda do ser equipano( em outra palavras: em pertencer a gangue da saia de chita), mas quando vejo um cara que mostra o além desse estereótipo, do jeito que você fez isso tão bem, com tanto conteudo, sinto a necessidade de me livrar dos meus preconceitos para com "atuais euqipanos'.
    parabéns querido

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  2. boa, borges. mandou muito, mesmo. fico muito feliz quando leio essas coisas, principalmente de você. é bom ver pessoas lutando contra preconceitos (seja por equipanos, seja por negros), ver alguém qquerendo mudar algo pequeno, que pertença ao seu mundo, que já faz toda a diferença.
    eu me orgulho muito de você.

    beijo, anita.

    (poxa, assim me dá saudades de equipanos pensantes e de pessoas que querem mudar, que não se contentam.)

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