quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Reeleição, só do lado direito...

Acredito que todos acompanham na mídia a situação que vive Honduras no momento. O presidente eleito Manuel Zelaya, que já vinha em exercício e que foi democraticamente eleito pela maioria dos votos do país foi deposto. Em seu lugar como presidente interino, ficou Micheletti, um dos seus “companheiros de partido”. Micheletti, tem o poder garantido pelas forças armadas e está suportando diariamente diferentes protestos públicos por parte daqueles que defendem a constituição, não necessariamente Zelaya.

A ruptura deu-se no momento em que Zelaya, vindo de um partido de direita, passou a defender mais os interesses populares, aproximando-se de uma linha governamental como à que Hugo Chavez e Evo Morales fazem na Venezuela e na Bolívia respectivamente. Da mesma forma que estes, entre outras medidas populares, ele aumentou o salário mínimo e vinha procurando meios para que pudesse se reeleger, ato que ainda não é legalizado em Honduras. Zelaya convocaria um plebiscito popular para saber se poderia executar essa reforma constitucional. Porém, antes disso, o congresso criou uma lei que impediria o presidente de tomar decisões sobre mudanças constitucionais, que estas mudanças deveriam partir apenas do congresso. Decidindo passar por cima do congresso hondurenho, Zelaya foi deposto e extraditado de cuecas de seu país, caracterizando um Golpe de Estado liderado pelas elites hondurenhas.

Desde que sofreu o golpe, Manuel Zelaya passou a percorrer os países latino-americanos em busca de apoio, com uma comitiva de aproximadamente 70 integrantes e mais a sua família. Manuel Zelaya passou por países como Argentina, Paraguai, México e de todos os países que o receberam, o Brasil foi o país que manteve o maior reconhecimento de Zelaya como presidente hondurenho. O Presidente Lula o recebeu com regalias de Chefe de Estado, com direito à reunião particular e tapete vermelho.

Agora, há duas semanas atrás, Zelaya voltou escondido a Honduras e foi abrigar-se na embaixada brasileira, com toda a sua comitiva. Sabendo que contava com o apoio do governo brasileiro, Manuel Zelaya está sob a proteção do Estado brasileiro em Honduras. O governo já assumiu o apoio ao presidente deposto e no momento assiste de fora as negociações entre os órgãos de apoio e o governo interino de Honduras. A OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas) buscam achar uma forma de contornar pacífica e diplomaticamente a situação, contando com o apoio de países importante nas Américas, como Brasil e Estados Unidos.

Porém não venho aqui tentar identificar qual o lado certo ou errado, quem é o bem e quem é o mal nessa disputa. Venho dizer que não podemos pensar que o Brasil tem um papel apenas de observador nessa história hondurenha. Um país que é tão parecido com o Brasil, pois têm índices de desenvolvimento econômico e social que são bastante aproximados, vive uma situação política de crise e a meu ver essa situação nos faz pensar muito sobre o Brasil e sobre como a política mundial vem se desenvolvendo com o final da guerra fria.

O que pretendo destacar é como a reeleição pode ser vista em diferentes situações, já que este foi o maior motivo para que Manuel Zelaya sofresse o Golpe de Estado. No Brasil, o presidente Fernando Henrique também quis mudar a constituição brasileira, e conseguiu; de forma que um ano após ele fosse reeleito. Porém, o meio que ele utilizou para que pudesse se reeleger é, até hoje, um pouco desconhecido e controverso, motivo pelo qual deveríamos saber mais, porém com pouco destaque na mídia.

No mesmo momento que este embrolho vem se desenvolvendo em Honduras, o Presidente Colombiano, Álvaro Uribe, ficou mais próximo de seu terceiro mandato consecutivo. Reconhecido pelo seu combate contra o narcotráfico das FARC e agora recebendo o apoio dos Estados Unidos, nesta mesma batalha, e podendo até, ter em seu território uma base militar americana, para que o combate ao narcotráfico torne-se mais fácil (caso que também esteve na mídia alguns meses atrás). Porém, nenhum destes dois últimos casos, de FHC e Uribe, passaram pelo crivo das urnas populares, como queria fazer Zelaya. Não tendo passado pelas urnas, através de plebiscito, podem não representar realmente o que a população deseja, mas vale destacar que a mídia não faz essa crítica, hoje em dia, tampouco naquele tempo.

É um tanto quanto controverso dizer que Zelaya, Morales e Chavez são presidentes ditadores, ou que se colocam contra a tão intocável democracia defendida por todos estes órgãos que acima citei, já que se mantém no poder por seguidos mandatos. Se formos avaliar, tais presidentes têm, na sua maioria, o apoio popular em seus países e puderam reeleger-se depois de referendados pelas urnas. Porém, por defender mais o povo e em alguns momentos tomarem medidas bem mais próximas do socialismo não recebem o apoio dos países mais poderosos. Fazendo com que as suas reeleições sejam mal vistas e recebam tais críticas, já que representam certo perigo ao capitalismo e acabam ganhando essa conotação ditatorial que não é boa a ninguém.

Esta situação controversa nos demonstra apenas como os países mais importantes e mais desenvolvidos apóiam as reeleições. Não a veem como uma forma de demonstrar o que o povo quer, e sim como uma maneira de manter o controle sobre países de menor importância no cenário mundial. A meu ver, estes países poderosos e desenvolvidos comportam-se, nesta situação, com um pensamento assim: “Se este governo está alinhado ao meu modo de pensamento político e econômico, eu apóio a reeleição; se vai contra, mesmo que seja o que a população quer, eu me oponho.”. Demonstrando como os interesses destes nada têm a ver com a situação daquele ou deste país, tem a ver com as suas próprias intenções, na maioria dos casos aliadas aos interesses de uma elite rica e poderosa, que conta também com o apoio da mídia em seus países.

domingo, 27 de setembro de 2009

Você de Novo Sarney?

Depois da publicação da matéria pela Folha de S. Paulo do dia 17/9/09, a situação ficou complicada, ou pelo menos deveria, para José Sarney. Segundo o veículo de comunicação, Sarney mentiu para o Senado.

Mesmo depois de passar por uma série de acusações que não foram investigadas pelo conselho de ética, que por sinal eram gravíssimas, Sarney volta a mídia sob suspeita de faltar com a verdade no Senado.

Curioso que esta mentira está ligada as acusações que colocaram o Presidente do Senado na mídia recentemente. Sarney disse não ter nenhuma função administrativa na fundação que carrega seu nome em São Luís (MA). Porém, não foi isso que a Polícia Federal interpretou ao interceptar e-mails e ligações de Sarney.

Primeiramente, a fundação José Sarney era acusada de desviar 960 mil reais em 2004 do governo do Maranhão e 1,34 milhão de reais de patrocínios da Petrobrás entre 2005 e 2008. Verbas que seriam destinadas para a recuperação de acervos culturais, como livros e museus foram desviadas para empresas que não explicitam que tipos de serviços prestaram com esse dinheiro e, se são ligadas à família Sarney.

Os telefonemas interceptados apontam de maneira muito clara que Sarney estava envolvido no dia-dia da fundação. Um dos episódios que comprova isso é o fato de José Sarney ter ajudado sua neta, Ana Clara, a dirigir as decisões da fundação e dar conselhos para ela conduzir as negociações com o empresário Richard Klien, que curiosamente, ajudou a patrocinar a campanha de Sarney com 270 mil reais em 2006 e com 240 mil para a de sua filha para o governo do Estado do Maranhão.

Os fatos começam a vir a público de uma maneira que, moralmente, deixa insustentável a permanência de Sarney a frente do Senado. Se essas acusações são falsas, em relação ao desvio de dinheiro da fundação, não haveria motivo para o Presidente do Senado mentir. Isso necessita de no mínimo uma investigação, que englobe, também, as acusações que a pouco tempo foram arquivadas. Até porque, o conselho de ética considera quebra de decoro parlamentar faltar com a verdade no Senado, justificando a cassação do mandato de Luiz Estevão em 2000 pelos mesmos motivos que Sarney está sendo indiciado.

Mesmo com sua tropa de choque, comandada por Fernando Collor de Melo e com apoio de parte da bancada petista devido as recomendações do presidente do partido dos trabalhadores, a oposição tem uma excelente chance de protestar e fazer justiça, esclarecendo por meio de investigações todos esses fatos que estão muito mal explicadas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mais um modelo para a classe média paulistana

Dizem que somos incultos, malvestidos, que não contribuímos para a sociedade funcionar como um todo. Os ladrões são vagabundos que não vão atrás de empregos e os pivetes que vem pedir dinheiro no sinal são brutalmente calados, num ato de extremo desinteresse por um vidro negro e blindado.


Após uma festa, num Sábado à tarde, observei o modelo da classe média alta paulistana que só enxerga o que há sob seu nariz e adora palpitar e esculachar o que, para tais, não é bom, não é normal. Na verdade eu estava sem ter muito o que fazer e resolvi me sentar num banco para observar, observar...


O banco em que me sentei ficava exatamente na porta do casarão branco. Lá sorria, ou mandava um tímido oi para cada convidado que atravessava o jardim. Todos estavam realmente bem vestidos. Os homens exibiam suas camisas Pólo, acompanhadas de calças e sapatos visivelmente comprados recentemente num Shopping Center. Porém o que mais chamou minha atenção foi que a grande maioria dos homens vinha acompanhado de uma esposa maquiada e com roupas poucos chamativas e uma filha ou filho pequeno.


Pensei que aquilo pudesse ser um molde. Percebi que a maioria dos casais tinha um único filho, resultado provavelmente da falta de tempo dos pais que trabalham “duro” para manter seu status. São vidas planejadas, sempre com o freio de mão puxado. São adeptos ao liberalismo, mas acreditam numa maior repressão policial e aplaudem de pé quando vêem ações como as do capitão Nascimento no lugar mais próximo entre ricos e violência policial - o cinema - afinal estão protegidos fisicamente e visualmente em seus bairros, suas bolhas. Dizem-se pais modernos, mas a liberdade dos filhos vai até a calçada e “ai” dele se pisar com o pé sujo no tapete e se cursar algo que não de dinheiro na faculdade.


A partir dessas ações, é perceptível uma grande diferença no conceito de modernidade. Pai moderno não é aquele que dá um celular precocemente, ou joga vídeo-game com o filho. Pai moderno é aquele que da liberdade de escolher, ir e vir e mais do que tudo, confia na sua cria.


Sem dúvidas há a preocupação em passar uma imagem de família perfeita (unida, feliz e normal) para a criança. Esta absorve o discurso da família e juntamente com a imagem dos pais heróis, constrói uma grande dependência que pode se tornar perigosa, a partir do momento em que a criança só se sente segura ao lado dos pais. Além disso, passa a reproduzir a mesma linha de raciocínio dos pais que muitas vezes acaba sendo preconceituosa ou exime indivíduo e bolha de qualquer culpa, mesmo que a tenha.


Apesar das críticas, acho importante ressaltar que eu, ainda assim, vejo um grande potencial de mudança, tanto em algumas mentes realmente boas e inteligentes, quanto nos olhos brilhantes das crianças que estudam nos melhores colégios da cidade e se preparam para dar continuidade à elite.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Violência na Juventude

Este texto tem a possibilidade de ser publicado no Jornal Cantareira. Jornal de Bairro que circula em parte da Zona Norte de São Paulo.


A violência na juventude é um assunto de grande relevância para a sociedade e, no entanto, não tem a atenção que merece. O vandalismo nas escolas, em especial, nas públicas, reflete a violência e suas diversas facetas. O agravante aparece quando tratamos da juventude, que será a administradora do futuro, ou quem sabe, a educadora de amanhã.

Este problema tem tamanha grandeza devido as suas conseqüências, pois se analisarmos com calma, veremos que tratamos de uma questão aparentemente simples, que envolve a nossa irracionalidade. Um ótimo exemplo para isso é a destruição das escolas pelos próprios alunos.

Se refletíssemos de maneira sensata, teríamos como resposta que, a escola, ou o espaço público de um modo geral, pertence a nós. Nós pagamos por tudo isso. Será que se essa consciência fosse de alcance geral da juventude, teríamos esse número de objetos quebrados? Como um representante dela, creio que não. Até porque, não é do costume de ninguém, quebrar seus próprios bens, já que todos nós sabemos do sacrifício que nossas famílias têm em bancar esses pertences.

Manifestação que poderia ser interpretada como uma indignação dos jovens em relação ao pouco caso que as autoridades governamentais têm em relação à educação pública do país, se esse ensino, qualitativamente, possibilitasse uma reflexão mais aguçada sobre a falta de interesse do poder estatal sobre o ensino da maioria. Contudo, o caminho para que essa postura mude, não é por meio da destruição do espaço público, ou neste caso, das escolas.

No entanto, isso não deve ser justificado somente sob a ótica econômica, pois a questão abarca a nossa irracionalidade. Por isso, penso que tratamos de questões de simples aparência, como: Por que fazem isso? Refiro-me aqui, novamente, ao vandalismo nas escolas.

O vandalismo não justifica de modo algum a situação precária na qual a educação pública no Brasil se encontra, todavia, certamente é um sintoma de que algo está errado. Há uma desordem instaurada que possibilita uma contestação em relação à falta de interesse dos governantes sobre o ensino da grande maioria do país.

Por outro lado, devemos refletir sobre algumas das nossas atitudes que são visivelmente movidas pela nossa irracionalidade. Pensar nessas ações e tentar entender porque as executamos é um bom começo para depois, demonstrar de outro modo nossa insatisfação perante o estado da educação no nosso país, sem que seja necessário quebrar nada.

domingo, 13 de setembro de 2009

Maldito Vício

O vício é mesmo uma droga, e drogas, viciam. Mas desde quando alguém liga? O tráfico delas é uma das atividades mais rentáveis no mundo inteiro, e isso só engloba as ilegais. Esquecemos dos remédios, do álcool, do tabaco e de uma das drogas favoritas da humanidade, nosso querido cafézinho.

Pois é, o café é uma das drogas mais consumidas em todo mundo. É estranho pensar que de todos os venenos que existem por aí; cocaína, maconha, LSD, Mc Donalds; o que mais gostamos é aquela xicrinha de 50 ml de uma bebida amarga, quente a ponto de queimar a língua e que amarela os dentes.

Ta certo, ta certo... estou exagerando. Se fosse só isso eu não o idolatraria, nem eu nem mais da metade dos homens e mulheres do mundo, não somos tão otários assim. Afinal, vale a pena uns aninhos a menos e uns dentes um pouco mais escuros por um cafézinho depois do almoço. Melhor que isso! De vez em quando, cedinho de manhã, naqueles sábados nublados, antes mesmo do sol evaporar as gotinhas de orvalho debaixo das folhas, acordar e preparar o primeiro café do dia. Rejeito qualquer maquinário que tenhamos inventado para executar tal tarefa. Côo o meu café sozinho, afinal, se sou eu quem vai tomá-lo, nada mais justo do que eu mesmo fazê-lo.

O primeiro passo é separar uma folha de coador de papel. Antigamente, quando os coadores eram de pano, esse começo deveria ser mais divertido. Talvez nem fizesse tanta diferença, mas esses coadores novos, principalmente os recicláveis, me dão uma sensação muito artificial.

Depois é preciso enfiar a folha dentro do funil e por o pó lá dentro. Ah, adoro essa parte. Às vezes minha mãe compra uns cafés altamente luxuosos aqui em casa, de grãos selecionados, colhidos assim e torrados assado; isso sem falar dos cafés gourmets que aparecem no armário. Esses são especiais, alguns tem aroma de baunilha, outros de trufa de chocolate, amêndoas... Nunca resisto, sempre me flagro cheirando o coador depois e deixando escapar um longo suspiro... Hmmmmm...
Para ferver a água conto um copo para cada cinco medidas de pó. Aí encho a menor chaleira que consigo encontrar e a levo ao fogo mais alto possível, sempre tapada por um pires ou um prato. Não tenho muita paciência para ficar lá parado olhando, por isso faço de tudo para que essa parte seja o mais breve possível.

Quando a água começa a ferver encho a garrafa térmica com ela e despejo tudo de volta na chaleira. Aprendi isso com o meu pai, deixa o café mais quente; o mesmo vale para a xícara, caso queira apreciar a bebida em pequenos goles, sem pressa, para não queimar a boca.

Agora vem a parte que faz tudo valer a pena, a hora de coar. Encaixo o funil na boca da garrafa térmica e, lentamente, despejo a água que ainda insiste em borbulhar conforme cai da chaleira. No começo consigo ver o pó se misturando à água, depois de alguns instantes já está tudo enmingalzado, aquela água grossa, negra. O cheiro de café impregna o ar, como uma mixirica em uma sala de aula, ou uma dama da noite em uma noite de verão.

Não há nada como o cheiro de café sendo coado. Gosto de, agora, sentar e esperar, fechar os olhos por alguns instantes e sentir aquele aroma, forte, embriagante, sedutor.

Alguns minutos depois o café está pronto. Sirvo-o em uma pequena xícara e, em alguns poucos goles, acabo com ele. Olho para o relógio da cozinha, ainda são oito horas. “E agora”, penso, “o que faço até meio dia?” Maldito vício...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Será o Bilhete Premiado da Esquerda?

Que o PT passa por uma crise de identidade, dificilmente alguém pode negar. Tensão que acontece devido à diferença das suas ações em comparação com a ideologia que o fundou, a socialista. Depois de passar por diversos problemas, o partido tem no Pré-sal, um programa que pode recuperar as suas raízes esquerdistas.

Essa crise pode ser expressa pelo suposto envolvimento de membros do partido com o “mensalão”, pelos dollares escondidos na cueca do assessor parlamentar do membro do partido, José Nobre Guimarães, dos problemas em relação à eleição do presidente do partido, que gerou, também, a saída de diversos membros ilustres da sigla, além do recente arquivamento das acusações do presidente do Senado, José Sarney, que teve apoio de membros do PT no senado, inclusive do presidente da instituição, Ricardo Berzoini.

Componentes como Ivan Valente, Plínio de Arruda Sampaio, Heloísa Helena, Luciana Genro, Chico Alencar, Luiza Erundina, a ex-prefeita de São Paulo e os mais recentes, Senador Flávio Arns e Marina Silva, a ex-ministra do meio ambiente deixaram o Partido dos Trabalhadores nos últimos tempos.

A crise fica evidente na medida em que o presidente do partido faz uma declaração, que segundo Ricardo Berzoini, era mais uma recomendação a bancada petista do Senado, para que votassem a favor do arquivamento das acusações a José Sarney. E, o líder do PT no Senado, Aloísio Mercante, se recusou a ler a recomendação de Berzoini por discordar das suas posições. Isso se considerarmos que tratamos de acusações gravíssimas ao Presidente do Senado, entre elas, nepotismo, um suposto desvio da Fundação José Sarney e da omissão de uma propriedade de 4milhões de reais da Justiça Eleitoral.

Essa decisão fez com que Flávio Arns se sentisse envergonhado com a determinação do partido e da ação dos seus membros em relação ao arquivamento, pois, para ele, o partido rasgou e jogou no lixo as bandeiras éticas e transparentes que ajudaram a eleger o presidente Lula: “O poder e a ambição de se manter no poder mudaram o PT. Este não foi o partido que eu entrei há oito anos” disse Arns. Também fez com que o Senador Eduardo Suplicy mostrar o cartão vermelho a José Sarney, símbolo do futebol que representa a eliminação de um atleta dentro da partida, devido a alguma irregularidade cometida. Neste caso, porém, o “expulso” se tratava do Presidente do Senado, por causa das acusações que a ele foram feitas.

Os governos que antecederam ao de Lula foram os de FHC e de Fernando Collor de Melo. O partido dos trabalhadores e o atual presidente Luís Inácio, sempre apareceram com um discurso distinto ao dos dois citados. Tudo nos indicava que com a eleição do presidente petista, teríamos um fim às privatizações, porém, não foi o que aconteceu, contrariando, novamente, os ideais que fundaram o partido, que nos guiava a pensar em ações estatizantes, com empresas em campos chaves da economia sendo dirigidas pelo governo, com lucros restritos aos cofres da nação. No entanto, segundo a Wikipédia, o governo Lula privatizou cerca de 2,6 mil quilômetros de Rodovias Federais. Além das vendas dos Bancos do Estado do Ceará, do Maranhão e das Hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau.

Outro fator chocante é que até mesmo o nosso símbolo de empresa nacional, a Petrobras, tem investidores privados com boa parte das suas ações. No ano de 2003, primeiro ano da gestão de Lula, segundo a Folha de S. Paulo, a União tinha cerca de 55,7% das ações da Petrobrás. No entanto, em 2009, segundo Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, a participação da União nas ações da Petrobrás caiu para 32,2%. Isso porque estamos em um governo de um presidente que deveria representar a esquerda, os movimentos sindicais e não uma gestão com ações neoliberais.

Entretanto, o governo Lula pretende mudar essa política em relação ao Pré-sal, pois parece disposto a comprar mais ações da Petrobras. Porém, devemos tomar cuidado com essa medida, pois será a principal bandeira da provável candidatura a presidência de Dilma Rouseff nas eleições do ano que vem, enquanto tentaram deixar bem marcado que a campanha do PSDB será baseada nas privatizações do Pré-sal. Mas não sabemos se isso será usado apenas como campanha eleitoral, para depois o partido voltar a uma normalidade anormal de uma sigla fundada na causa trabalhadora, já que, dizer que petróleo é nosso é fácil, difícil é manter essa postura.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Papel do Homem na Modernidade

A modernidade é um projeto criado pelo próprio homem com o intuito de melhorar suas condições de vida através de conhecimentos e tecnologias. Além disso, tenta guiar nossa vida por meio de conhecimentos científicos, não religiosos e etc. Porém, será que ainda somos o objetivo dela?

O meio de organizar e modernizar o mundo hegemônico, desde o final da guerra fria, ou da queda da URSS, é o capitalismo representado pelos EUA. No entanto, devemos averiguar se o modelo capitalista proposto pelos Estados Unidos e seguido pelo governo brasileiro tem o homem como principal objetivo.

Segundo a Folha de S. Paulo do dia 5 de agosto de 2009, as empresas responsáveis pela construção civil deixaram de investir em equipamentos de segurança por causa da recente instabilidade financeira global na qual presenciamos. Logo, essas empresas passaram a ter seus trabalhos menos exigidos. Todavia, talvez, não tenham tido grandes abalos financeiros, pois seus gastos passaram a ser muito menores no momento em que deixaram de investir em materiais de segurança para seus empregados. Essa atitude gerou um aumento de 33% nas mortes da construção civil de Janeiro até Julho do ano de 2009, se compararmos com a mesma época do ano passado.

Algum tempo atrás, para muitos intelectuais, o trabalho era o maior valor social. Logo, o homem era apenas um trabalhador usado para mover a economia, deixando sua personalidade em segundo plano, já que era definido socialmente com base na sua ocupação trabalhista. Contudo, hoje em dia, para certos pensadores, o trabalho passou a ser meio para o consumo, maior valor social. Justificando o fato dos EUA injetarem dinheiro no mercado financeiro para terem pessoas trabalhando e, como conseqüência, comprando. Aliás, esse foi o anúncio do ex-presidente americano, George W. Bush depois da morte de diversas pessoas no trágico 11 de setembro: “Vão às compras”, ou seja, movam a economia. Afinal, o mais importante era o problema que isso poderia gerar nessa super potência e não o fato de muitas pessoas terem perdido suas vidas.

O choque, entretanto, se torna mais forte quando escutamos a média salarial dos cortadores de cana, que segundo o representante do Mistério do trabalho, Roberto Figueiredo, são a elite da colheita agrária no Brasil, devido às “boas” condições e salários se comparados às outras colheitas manuais.

O dinheiro recebido pelos cortadores representa uma parcela mínima do lucro de qualquer objeto vendido pela Usina. Isso se considerarmos que essas pessoas são responsáveis pela parte mais sacrificante do processo social da produção do açúcar e/ou do álcool, pois são eles que se submetem a um desgaste físico desproporcional.

Enquanto essas empresas aproveitam tudo para gerar mais e mais dinheiro, deixam seus trabalhadores vulneráveis a acidentes e, pagam a um cortador aproximadamente 30 centavos a tonelada cortada, como foi dito por um representante da Usina sucroalcooleira São Francisco. Isso sem considerarmos que o desgaste diário de um cortador de cana é semelhante ao de um jogador de futebol numa partida de aproximadamente 8 horas.

Portanto, se o homem é o centro da modernidade e tem que passar por essas situações, não quero nem saber o que poderia nos acontecer se não fossemos o foco dela.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qual é a várzea?

Quantas vezes já ouvimos dizer: “Ah, se fosse na várzea!”? Sem dúvida foram muitas. Aquele que avalia essa frase como apenas uma exaltação do ego dos locutores está um tanto quanto enganado.

Meus senhores, minha senhoras, sem nenhuma dúvida, os tempos mudaram e a várzea realmente não revela mais os craques de antigamente. Ela acompanhou o crescimento das cidades, foi modificada, substituída em parte pelas quadras de futsal e futebol society, dizem até que deixou de existir. Porém não me resta nenhuma dúvida, na várzea tudo ainda é diferente; hoje usam o seu nome em vão e a várzea ganhou uma nova conotação que agrega valores como falta de organização e de qualidade.

Poucos são os que sabem que a única coisa de “várzea” que o futebol de várzea tem realmente é a condição sofrível de seus campos sem tratamento, sem incentivo estatal ou privado, que ainda existem pela ação de poucas pessoas ou pequenos grupos que sempre atuam em alguns lugares. E as poucas ações privadas que existem ali não tem objetivo de devolver à várzea sua glória, torná-la novamente um seleiro de craques, mas sim de puro patrocínio para fins comerciais.

Quando se trata de paixão, amor e entretenimento ela é muito maior que qualquer outro lugar. São nos campos de terra batida e nas favelas que moleques tornam-se craques, assumem papéis e ganham a importância que muitas vezes não tem no seu cotidiano de trabalho. Há dois sábados atrás mesmo, um atacante de Guiné-bissau do time adversário ao meu teve o seu nome gritado no estádio depois de fazer o gol da classificação de seu time no torneio municipal “Jogos da cidade”.

Como um jovem nesse quesito e já tendo experimentado algumas vezes essa sensação de importância e valor, posso dizer que é na várzea onde o futebol prazeroso realmente acontece. Nos campos belos por onde as estrelas desfilam só podemos ver o interesse em suas cifras aumentarem cada vez mais, poucos são aqueles que resistem e levam a várzea para o campo.

Não me resta nenhuma dúvida de que com a comercialização do futebol profissional, bem como a sua globalização, com clubes perdidos e desorganizados, com jogadores desinteressados, com valores completamente questionáveis (não me refiro à economia) demonstram que as características que são atribuídas à várzea estão mais presentes no futebol profissional. E ao outro, bem mais aguerrido e cativante, o verdadeiro nome de futebol.