sábado, 21 de novembro de 2009

São Carlos - Da escravidão ao Tecnopólo

Que este título não passe uma idéia positivista, nem de uma linha evolucionista da história, já que tento fugir dela. Porém, que ajude a escancarar um problema crônico brasileiro; a desigualdade, ou mais que isso, o choque entre o arcaico e o moderno.

A cidade de São Carlos é referência por causa das suas universidades, USP e UFSCAR. Mais do que possuir universidades de tal porte, esses centros possuem pesquisas muito avançadas. Enquanto o LATAR (laboratório de tratamento e reuso das águas) produz tecnologias de ponta, a alguns metros dali, no centro comercial da cidade, são poucos que sabem algo concreto referente às universidades. Isso nos faz refletir sobre uma alienação geográfica, comum no Brasil. Essa separação tão forte é fruto de um processo histórico e cultural, pois desde sempre, as empresas que aqui se instalaram, por exemplo, tiveram facilidades fiscais e uma fraca fiscalização ambiental. Nunca foi exigido pelo nosso governo, que se fizesse algo para a população local, depois de utilizar seus recursos naturais. Logo, essas empresas, ou instituições públicas estão presentes fisicamente nesses locais, todavia constituem relações muito fracas.

Portanto, a afirmação de que essas universidades têm grande importância social, é uma constatação do ponto de vista de uma pequena parcela da sociedade, ou seja, uma elite que pode acessá-la.

Curioso que essa cidade acaba sendo considerada pela própria prefeitura e por vários moradores através da propaganda feita pelo município, como a capital da tecnologia, mesmo tendo seu passado extremamente ligado a produção cafeeira, e infinitamente esquecido e apagado pelo sistema educacional da região. Cultura cafeeira que por sinal ajudou a fundar a cidade, com os privilégios que foram cedidos ao Conde do Pinhal.

Porém, será que é do interesse, ou faz diferença para as autoridades o conhecimento da maioria sobre disso? E sobre o que se desenvolve nas universidades, ou até do poder econômico da cidade? Pois, se tratamos de uma cidade com tais características, onde estão esses benefícios que não são refletidos para a maioria? Já que ao entrevistar essa população, foram observadas reclamações e carências a todas as áreas de serviços fundamentais que deveriam ser responsáveis pelo poder público.

O conhecimento sobre a história da sua região e, como conseqüência, a atual situação dela é fundamental por diversos motivos, entre eles os políticos e até do conhecimento como fim em si mesmo, sem um desejo prático instantâneo. Contudo, falar isso de São Carlos é simples, mas e nós? Conhecemos a história da nossa cidade? Será que isso é da maioria? E sobre a USP?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

É pixo neles!

Vivemos em uma cidade de fato singular, acabo de saber que foi aqui em São Paulo que a pixação teve sua origem, sendo assim um movimento legítimo da Paulicéia ritmada.
A Pixação é algo que nos deparamos no nosso dia-dia adentrando nossa frente em cada esquina, cada muro, cada espaço urbano.
Confesso ter passado grande parte da minha vida reprimindo esse tipo de movimento devido a sua grosseria estética, se é que posso cometer esse julgamento pouco digno, mas de uns tempos para cá tenho me pego pensando e defendendo os pixadores da São Paulo que não dorme.
Pelo simples fato de ser um legítmo movimento de apropriação do espaço urbano que nos é tão estranho. Deixar o nome lá pixado em preto com uma tipografia pouco compreensível nas portas do Banco Safra ou da Venda de Verduras do italiano anarquista nada menos é do que tornar a cidade menos estranha aos seus habitantes, e principalmente aqueles menos privilegiados, a quem ela normalmente é mais hostil e rude.
Não hei de entrar no mérito do desenho em termos qualitativos, ou mesmo se aquilo é de fato arte, pois embora eu a considere, não é esta a questão na qual pretendo me apegar.
Mas sim como as pixações interferem no cotidiano, e se levadas para a galeria elas ainda trazem sua essência enquanto manifestação artística urbana e popular. Em primeiro lugar é importante discutirmos o que é público, o que é o espaço público. O recorrente argumento de que aquele muro pertence a um "cidadão de bem" e o pixador não tem o direito de vandalisar aquilo com sua natureza criminal é bem presente nos discursos de quem se manifesta contra o movimento de pixação, logo, começo nesta mesma chave, só que ao contrário.
Primeiro eu gostaria de ir logo ao ponto, bem claramente: Do muro pra dentro é seu, mas do muro para fora, incluindo o muro, meu querido, é tudo nosso! É da cidade, e sendo da cidade pertence a todos, todos podem e devem interferir naquele espaço pois a cidade não deve ter sua funcionadlidade ligada somente a estadia de seus munícipes, ou ser uma paisagem tranquila, a cidade é o lugar dos confrontos, entre as ideologias, entre as realidades e no caso entre as estéticas.
E antes que venham com aquele discurso fraco e batido de que "seu direito acaba onde o meu começa" digo lhe que no caso os direitos estão todos misturados, e se depender de mim e dos pixadores, eles seram escritos e atravessados nos muros das nossas casas.
Então cabe a nós interferirmos no espaço urbano. A nossa representação de classe(filhos da burguesia), cá entre nós, não tem nenhuma produção ligada a este tipo de intervenção (podem desistir! que consumir não é intervenção no espaço, pelo contrário, e a reafirmação de uma estética de massa). Os pixadores hoje, são os que melhor modificam e se apropriam deste espaço, escrevendo os seus nomes, se indentificando com a cidade.
Mas não me venham também com discurso de ONG, que sempre, repito, sempre é hipócrita e mercadológico, de que vai selecionar um muro no seu beco particular ou da sua galeira de "strett-art" ou espaço do meio-ambiental para que os pixadores e grafiteiros desenhem e que todos possam conviver em paz. Esse discurso pode parecer uma alternativa à estética atual,mas nos engana, pois ele a reafirma, se apropriando desses movimentos, e vendendo suas mercadorias atraves desses movimentos(vejam os becos da Vila Madalena, o quão mercadoria aquilo já virou.).
Lembremos, meus caros amigos, não estou discutindo estética, pois definitivamente os becos da Vila Madalena, entre outras centenas parecidos são belíssimos e confesso ser conservador demais para discutir estética, digamos que minha caretisse artística não cai bem à essa discussão tão revolucionária.
Também não peço que os governos a partir de então incluam pixo nas "leis das cidades limpas", não quero ver o pixo sendo apropriado pelos tucanos e democratas com suas confusões urbanas ou até mesmo pelos petistas que em grande parte, só fazem média, eu quero ver o pixo na ilegalidade, pois só um movimento esteticamente violento pode responder a altura a violência estetica do capitalismo.
A critica e a resposta tem que ser radical, não pode ir para as galerias, não que as galerias não sejam o lugar da revolução estetica, mas esta especifica só é revolucionaria quando feita na urbes, na galeria ela fica domada, como o capital a quer, calminha.(já imaginou um pixo da Hello Kitty?)
Eu entendo que estes artistas ou interventores tenham de ganhar seu dinheiro e que todo mundo quer satisfazer seus desejos, mas na galeria não é pixo, é uma copia estética do pixo, mas não o é!
Não podemos levar os pixos para as galerias convencionais, temos que entendermos a rua como a galeria legítima para esse tipo de arte, temos de mudar nossa concepção de cidade, a cidade é um museu, uma galeria, cabe a nós ressigficá-la frente ao ritmo de produção. As obras já estão expostas, devemos diminuir nosso ritmo para vê-las.
Mas não devemos entender a cidade como uma galeria que proteje suas obras, por serem elas sacras, pelo contrário, a insegurança da obra na cidade é o seu maior valor museológico, a obra enquanto interina,uma obra na cidade que não seja perene, que não fique trancafiada em uma caixa de vidro, como a Monalisa. Que seja destrutível, para que então, possa ser recriada e assim se sustentará a verdadeira arte urbana.
Confesso não apreciar a estética do pixo, mas a arte e os movimentos estéticos em geral são como a espuma de uma bebida, elas só se sobressaem do que de fato é a sociedade. A sociedade planta sua própria cultura e a sua arte, e cabe a nós entendê-las melhor. Uma sociedade como a de hoje não pode pedir mais de suas formas artísticas populares do que o pixo, o grafite, pois eles são legitimos e refletem de forma contrária uma cidade de passagem.
Então meus caros, me manifesto aqui favorável à pixação, e caso esta venha a ocorrer no meu muro, aconselho o mesmo tipo de entendimento caso aconteça a vocês: Se dê por contente que seu muro foi apropriado, foi modificado. Caso não goste da modificação, vá até o muro do teu vizinho ou até o de alguém do outro lado da cidade e pixe, modifique,mas não resmungue por algo tão interessante e popular, pois aqui isto é raro, você acabada de presenciar na sua pele, digo parede, uma movimentação política de apropriação urbana do Séc XXI, é mais raro que ouro. Se satisfaça por ter ocorrido contigo, entenda o privilégio que você teve, e por fim, respeite a pixação e seus interventores, os pixadores.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Como o Brasil foi apodrecendo?

Os poderes começaram a “definhar” aproximadamente no ano de 1889, no período da República das Oligarquias Cafeeiras, o coronelismo e o curral eleitoral evidenciaram como o sistema supostamente “impenetrável”, foi “apunhalado pelas costas” por parte dos próprios representantes dos poderes! Naquela época ficou nítida a opção dos governantes brasileiros em priorizar uma minoria e excluir a maioria, não é a toa que se destacaram muitas revoltas de caráter popular, exemplo disso é a Revolta da Vacina, que “empurrou” os pobres para os morros, “deslocou” os negros do âmbito social. Que coisa mais ridícula essa política de branqueamento, essa tentativa de “europeizar” a sociedade brasileira, isso não tem nada de moderno.

100 anos mais tarde, 1990, entra vem vigor o Plano Collor, um conjunto de reformas econômicas e ações para estabilização da inflação: Programas de reforma de comércio externo, política industrial mais conhecida como PICE, e um Programa de Privatização intitulado Programa Nacional de Desestatização, mais conhecido como PND. Fernando Collor de Mello teve seu mandato precidencialista cassado em 1992, por envolvimento em esquemas de corrupção, em parceria de seu sócio e tesoureiro de campanha eleitoral Paulo César Farias. Então, os poderes não melhoraram, muito menos a estrutura do país. Corrupção é sinônimo de “involução”, de retrocesso! O "esquema PC" arrecadou exclusivamente de empresários privados o equivalente a US$ 8 milhões, R$ 15 milhões, em dois anos e meio do governo Collor. PC Farias teria controlado quase todos os ministérios durante o governo Collor e diversos setores da economia. O ex-tesoureiro da campanha de Collor teria manipulado grandes contratos do país através da indicação de funcionários no segundo e terceiro escalões do governo para alterar documentos, criar contas fantasmas e desviar, sem pistas, verbas que deveriam ser aplicadas em obras públicas, educação, saúde, segurança e previdência social. A Polícia Federal, ao longo de investigações no Brasil e no exterior localizou contas de PC Farias na Europa, de onde foram feitas transferências para as contas em Nova York e Miami. Repare que o fato de um presidente “passar” suas obrigações a outra pessoa, é ferir a constituição da maneira mais grave, afinal de contas, uma vez eleito presidente, as responsabilidades de “chefe do país”, cabem a ele e só a ele.

Mensalão, 10 anos após o escândalo do governo Collor, o povo brasileiro saturado de corrupção, explode na mídia Roberto Jefferson denunciando um esquema que desvia verba pública. Considerada a maior crise política sofrida pelo governo brasileiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2005/2006, suposta "mesada" paga a deputados para votarem a favor de projetos de interesse do Poder Executivo. Foi descoberto em julho de 2008, durante uma investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas, que o Banco Opportunity foi uma das principais fontes de recursos do mensalão. Através do Banco Opportunity Daniel Dantas era o gestor da Brasil Telecom, controladora da Telemig e da Amazonia Telecom. As investigações apontaram que essas empresas de telefonia injetaram R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda, administrada por Marcos Valério, o que, segundo a PF, alimentava o Valerioduto, esquema de pagamento ilegal a parlamentares. A Polícia Federal pôde chegar a essa conclusão após a Justiça ter autorizado a quebra de sigilo do computador central do Banco Opportunity. A maioria dos problemas explode no Executivo, justo aquele poder que é supervisionado e comandado diretamente pela “força maior do Estado”, o presidente que teria o poder da “ação”, de concretizar, de definir.

Não quer dizer que no Legislativo e Judiciário não existam problemas, claro que temos. Exemplos destes são quando o TCE julgou irregular a Tomada de Contas do Legislativo Municipal de Barros Cassai no exercício de 2004. O conselheiro Porfírio Peixoto, em seu relatório e voto, levantou ressalvas às normas de administração financeira e orçamentária. Depois de ser cientificado da decisão, o presidente da Câmara de Vereadores de Barros Cassai, no ano citado, teria um prazo de 30 dias para recorrer e tentar reverter sua situação (ele que se vire pra provar que não desviou verba, quero só ver). Ou também quando o jurista Elival da Silva Ramos, que acaba de conquistar uma cadeira de professor titular de Direito Constitucional da Universidade de São Paulo criou uma tese contrária ao ativismo desse Poder. "O Judiciário, às vezes de maneira um pouco inconsequente, tenta resolver os problemas nacionais, custe o que custar. E, na verdade, cria outros problemas", disse ele ao Estado. "Se acreditarmos que o STF pode decidir de maneira livre, aquilo que quiser, então joga fora a Constituição e o Supremo vai escrever outra." Isso demonstra que “decisões de maneira livre” são comuns quando os representantes dos poderes são reunidos, fugindo do que está pré e pós estabelecido na Constituição!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Olimpíadas vem aí!

Depois da euforia em relação à vitória do Rio para sediar as olimpíadas de 2016, vamos tentar fazer uma análise mais fria e centrada.

As olimpíadas, a Copa do Mundo de 2010 e os jogos Pan-americanos de 2007 demonstram a importância geopolítica que nosso país vem tendo mundialmente nos últimos tempos. Até por que, vencemos na disputa para a execução das olimpíadas, potências inquestionáveis, como Chicago (EUA), Madrid (Espanha), Tokyo (Japão), entre outras.

Porém, é Curioso analisar a posição do povo japonês que em meio à crise mundial, rejeitou os jogos com aproximadamente 40% da população. Eles gostariam que esse dinheiro não fosse investimento na modernização da infra-estrutura necessária para execução dos jogos, e sim em outras áreas que beneficiassem diretamente a todos. Sem considerar que tratamos de um país resolvido economicamente e que, certamente, não tem nossos problemas sociais.

Enquanto isso, batemos palma para um evento que custará cerca de 26 Bilhões de reais, aproximadamente 1% do PIB brasileiro, se considerarmos o ano de 2008. Com certeza teremos uma maior infra-estrutura para a cidade do Rio de Janeiro, mas apenas para o Rio, com o dinheiro dos outros Estados. Além de que, tratamos de uma melhoria de infra-estrutura até a segunda página, pois muitas dessas obras ficaram sem uso depois dos jogos.

Quantas escolas e hospitais poderiam ser construídos com esse dinheiro? E se somarmos os gastos do Pan de 2007 e do que se pretende gastar na Copa de 2010, com as Olimpíadas? Claro que para um governo que quer se restituir no poder, essas cerimônias são mais importantes, porque impressionam infinitas vezes mais a população.

Nem citarei a violência como um problema, pois é possível prever que a repressão será tão forte nas favelas cariocas a ponto de capitão Nascimento nenhum colocar defeito. Isso por que nem consideramos uma questão crônica do nosso país: a falta de transparência com o uso do dinheiro público.

Mais do que a corrupção, os últimos escândalos que saíram na mídia aumentam o pessimismo em relação a essa organização. Como queremos organizar tantos eventos de tamanha importância, se temos dificuldade em organizar uma prova, como o ENEM? A segurança de uma prova foi violada, portanto, imaginem o que pode ser feito com os milhares de atletas de inúmeros países.

Um recente acontecimento que mexe com outro ponto de extrema importância para a efetuação de tais eventos, demonstrou as condições dos transportes cariocas. O Rio, como outras grandes cidades brasileiras, tem grandes defeitos nesse aspecto, tanto que centenas de pessoas ficaram sem condições de trabalhar na baixada fluminense, como constatou a Folha de S. Paulo do dia 8 de outubro. As conseqüências disso foram à destruição dos estabelecimentos do metrô.

Logo, a festa poderá ser linda (como deverá ser), mas ainda podemos nos deparar com novos alvoroços políticos de corrupção, de violência, entre outros. Porém, depois de saber que o Estado brasileiro tem tanto dinheiro para investir em um acontecimento esportivo, podemos cobrar e nos perguntar em relação ao pouco caso governamental com a saúde e a educação.

O que me incomoda é isso; penso que a execução de tais eventos são investimentos supérfluos. Não teria essa posição se outras áreas estivessem passando por uma reforma, ou até em construção, visando uma melhor base em diversos sentidos para a grande maioria. Contudo, torço para que esses eventos sirvam de lazer para uma cidade, como a maioria da nação, carente de momentos públicos prazerosos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A Utopia

Antes de tudo, me considero muito utópico. Para que e como viver sem as utopias? O mundo sem elas faz com que fiquemos no absoluto conformismo, que aceitemos tudo, nos tornando niilistas. Elas são as maiores fontes de críticas, que como conseqüência, exigem a renovação de todo e qualquer pensamento.

Realmente, muitas das experiências socialistas foram falhas, mas serviram para que os filósofos, diferentemente do dito por Marx, continuem pensando o mundo, como foi proposto por Theodor Adorno. Logo, a prática possibilita um aperfeiçoamento da teoria, para que os equívocos sejam explicados e futuramente não se repitam.

Hoje em dia, entendemos alguns dos motivos para tais revoluções socialistas não terem sido o esperado. Primeiramente, o homem socialista, na maior parte do tempo e dos casos, não foi criado. Portanto, idealizaram um regime que preza a solidariedade, ou seja, fraternidade, igualdade e até a liberdade com uma mentalidade capitalista, de competição. Sito esses valores, porque eles não são restritos aos burgueses. Passaram a ser valores ocidentais, inclusive, da esquerda em si.

Talvez, os governos socialistas não nos deixaram muito esperançosos, mas ela, teoria, faz-me crer muito nesse ideal. Enquanto muitos, por outro lado, defendem uma que teoria que nela, já está à desigualdade, como a liberal.

Curioso é observar, escritos liberais que ousam falar em liberdade. O que considero, neste caso, um bem muito restrito e particular, com o caráter pequeno burguês. Como nosso professor de história disse, defender essa liberdade, proposta pelo liberalismo, inclusive a de mercado, é, simplesmente, defender um privilégio. Quantos são aqueles que podem colocar seus filhos em uma escolar particular? Bom, para estes, realmente, a liberdade burguesa existe, pois possuem um grande leque de opções. Já que, ela se resume ao quanto de dinheiro que você tem no bolso.

A liberdade, no entanto, deve ser pensada de modo coletivo. Agnes Heller, primeiramente, acredita que esse sistema alienante cria estereótipos, preconceitos, devido ao seu cotidiano pragmático, direcionado para o consumo. Portanto, nossas ações são pautadas por valores que liquidam nossa liberdade, que deveria ser baseada na reflexão, ou seja, uma ação ativa e não passiva.

Além disso, a liberdade não é ago quantitativo, de quantas pessoas são livres, mas sim, qualitativo, se nossa sociedade, por exemplo, é ou não livre. Nossas ações cotidianas estão tão relacionadas aos outros que não teria condições de escrever esse texto, sem o trabalhador que o produziu em determinada indústria e sem as conversas com o companheiro Vitor Quarenta. Deste modo, a falta de liberdade de um, fará com que todos não a tenham. Será que o filho de um determinado burguês, no gera, é livre a ponto de ir a uma favela? Além de poder ter seus preconceitos, o que não é ago necessário, ele não faz parte de determinados contratos sociais que lá, podem existir devido, também, a falta de liberdade.

Porém, nem é isso que mais me incomoda. O problema é atacarem a ideologia marxista criada, muitas vezes pelos próprios governos de esquerda por meio da sua arte, como se fosse à teoria. Vamos deixar bem claro que não existe essa de igualdade plena, de todos iguais a todos. Uma das bases de Marx, Espinosa, acredita que todos somos singularidades, que recebemos de modos diferentes os afetos exteriores a nós. Se todos nós somos diferentes, por que tratar todos de modo igual? Para isso ser realmente uma igualdade, todos nós deveríamos ter o direito e a chance de ter suas diferentes necessidades supridas, igualmente.

Enquanto a outra base de Marx e Engels, Hegel, refuta a idéia de que somos naturais, como também faz aquele nosso professor de história. Temos muito pouco de natural. A alimentação, hoje em dia, por exemplo, não tem apenas uma função de nos alimentar. Não deveríamos ter o medo de morrer de fome, tanto que não saímos de casa para caçar, e muito menos aceitamos comer tudo o que achamos. Ela passou a ter um papel muito distinto; o de ser algo prazeroso. Nela são transmitidos valores. O sentimento de liberdade ao beber uma coca-cola e lembrar-se das suas propagandas, onde até os ursos bebem-na e se jogam de cachoeiras de uma maneira magnífica. Logo, podemos concordar e entender a tese hegeliana de que a cultura é a negação da natureza. Deixamos de ser naturais, na medida em que os objetos naturais não nos satisfazem, ou seja, quando passamos a produzir e nos relacionar, para melhor nos relacionarmos.

O homem, então, em suas comunidades, se torna um ser da práxis, ou seja, passa a ter uma relação direta com a natureza e com outros homens com um propósito bem definido, de melhorar suas condições de vida. O problema, como no exemplo da alimentação, aparece na distribuição de renda e de alimentação, e não a falta dela.

O sistema proposto por Adam Smith é, sem dúvidas, alienante, com uma grande divisão social do trabalho. O mercado, criado por ele, passa a ter vida própria e, na maioria dos casos, agir contra nós. A teoria criada por Marx tenta liquidar isso.

E para aqueles que julgam os regimes socialistas como assassinos, proponho que tentem ver o quanto a GM, ou outras forças capitalistas, matam por ano. Sem querer defender a morte de muitos por estes regimes, o que está totalmente errado, mas como um professor disse; agora o de geografia, o que mais mata ao ano, de modo disparado, são os acidentes de trânsito.

A minha escolha foi essa, lutar por um mundo melhor por meio da teoria socialista, que preza pela fraternidade, ao invés de cruzar os braços e aceitar a enorme exclusão social. Duro é ver que mesmo quando o socialismo chega ao poder de modo democrático, as forças internacionais atacam o palácio do governo, e deixam morto seu presidente, como o que aconteceu com Salvador Allende.

domingo, 18 de outubro de 2009

viol(ci)ência ?!

A violência praticada dentro do ambiente escolar vêm sendo cada vez mais comum e, infelizmente, trazendo malefícios que podem se tornar irreversíveis a nossa geração e sociedade. Cada vez mais e de diferentes formas, a violência vem sendo “aceita”, tornando-se comum e tolerante. Mesmo em países desenvolvidos, a violência vem sendo cada vez mais praticada nas escolas e universidades. A geração cada vez mais abriga e educa jovens que desrespeitam a si mesmos e aos outros, sem ter a mínima noção do que fazem. Em uma sociedade como a nossa, os jovens se vêem cada vez mais no dilema da responsabilidade/diversão e, ainda por cima, vinculando esta diversão a agressões e desrespeitos ao próximo.
As notícias que se estampam quase todos os dias nos jornais, não impressionam mais. Casos de agressões graves dentro do ambiente escolar, como o caso da estudante que foi espancada na porta da escola em Brasília, no dia primeiro de outubro, não chamam mais a atenção. E os professores, que já sofrem com salários péssimos, pressão psicológica de todos os lados, ainda sofrem com o medo da violência, que aumenta a cada dia. Assassinatos a professores em portas de escola, principalmente no interior do pais, não assustam mais a sociedade como deveriam e as pessoas não pensam o quanto isso pode prejudicar a nossa sociedade e o futuro.
Mesmo com o problema se alastrando pelo mundo, a sociedade não parece dar importância ao fato. No Brasil, por exemplo, este problema nem está entre as prioridades das políticas educacionais. Cabe a órgãos como o MEC e a Unesco a ação; porém estima-se torno de 200 mil estabelecimentos que contenham uma política oficial contra a violência. É verdade que nas escolas de elite brasileiras, o problema é bem menor do que em escolas de elite americana, por exemplo. Mas não podemos “amansar” este problema, visto que a “violência indireta” acontece aos montes em qualquer tipo de escola. O chamado “bulling” – aquele nome ridículo para uma coisa mais ridícula ainda – vem se tornando uma situação cotidiana dentro das salas de aula, de qualquer classe social. E é assim que vemos como a nova geração saberá se portar com os problemas da sociedade. Os jovens, cada vez mais acomodados em sua situação, seja ela qual for, cada vez mais preguiçosos e preocupados com sua própria vida, ou são completamente excluídos do mundo adulto, sem saber lidar com seus problemas tanto pessoais, quanto profissionais, ou se inserem tão rapidamente ao mundo adulto que não se disponibilizam a criticar e agir contra o sistema que se inserem.
Existem lacunas imensas na educação do jovem, tornando-o cada vez mais “livre” e descompromissado. Estas lacunas, sem dúvida nenhuma repercutirão em uma nova geração preocupante. A acomodação do jovem em sua situação é cada vez mais difícil de lidar. Nada lhe incomoda visivelmente, não há nada que o motive, o perturbe. Está claro que a educação não se restringe a escola (ao contrario do que muito pai, infelizmente, pensa), porém tornar o ambiente viável para uma educação decente, com certeza contribuirá para a formação de uma sociedade critica e capaz de realmente mudar alguma coisa.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Encaminhamento dos Poderes

Em todas as sociedades humanas existem pessoas que agem segundo as leis e normas, reconhecidas como legais do ponto de vista constitucional. No entanto, também existem pessoas que não conhecem e desrespeitam esse conjunto estabelecido de leis e normas para um “benefício pessoal”. No crime de corrupção política, os criminosos, ao invés de assassinatos, roubos e furtos, utilizam posições de poder estabelecidas no governo da sociedade para vantagem deles próprios, ou seja, contra a sociedade, contra a maioria! Usam da responsabilidade de cada poder para lucrar e não mais para realizar sua verdadeira função, de regular e manter a ordem socioeconômica (é o caso Brasil).

A corrupção é um exemplo clássico de que a teoria é totalmente diferente da prática. Montesquieu criou um sistema quase perfeito de organização e manutenção da sociedade (fundamentada nos três poderes). O Brasil adotou este modelo, mas desde os tempos das oligarquias, notamos desvio de verbas, defesa de interesses de minorias, sonegação, controle de votos e muito mais... Não é um caso isolado aqui e outro ali não, todos os dias jornais, revistas, rádios, noticiários e o que seja, fazem referências a escândalos na política (valeu Datena). As leis penais brasileiras são suficientes para combater a corrupção, o problema é que destruíram gradativamente a autonomia dos poderes, a criação, execução e a justiça estão comprometidas! Acredito que existam muitas pessoas honestas em nosso país, a questão é que essas passam despercebidas perante a tamanha falta de respeito dos individualistas e corruptos “a falta de valores humanos estão exterminando os valores éticos brasileiros” e denegrindo a imagem do nosso país no cenário mundial (se vira Amorim).

“Contra fatos não há argumentos”.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A Utopia Socialista

O primeiro motivo que encontro para o fracasso da utopia igualitária socialista é esse; o socialismo é uma utopia. Somos diferentes por natureza, e não há como negar isso; cada célula de cada indivíduo carrega uma carga genética diferente. Além disso, as experiências de um não podem ser iguais as de outro; sendo assim, além de diferentes por natureza, sofremos, cada um, criações diversas. Por favor, não entenda isso como uma critica à república também; muito pelo contrário, irei ressaltá-la.

Uma república não tem a obrigação de tornar todos os homens iguais; não em todos os aspectos. Perante seus poderes, eles são; mas estes poderes não sufocam o povo, deixando que cada um trilhe seu próprio caminho; como uma mãe que cria seus filhos amando a todos e depois deixa com que saiam de casa; um para ser médico, outro professor, talvez algum jornalista... Já o socialismo; esse obriga a todos serem iguais e uma república não da conta disso, por isso instala-se um governo autoritário. O governo autoritário, por sua vez, é uma mãe super protetora, acompanhada de uma pai linha dura; além de não poder sair para brincar, a criança apanha se desobedecer às regras. E o que essa criança faz? Foge para rua assim que os pais viram as costas.

Vou explicar melhor a imagem que usei agora. Se a criança for impedida de brincar, ela tentará driblar isso de alguma maneira, e de tanto correr daqui para lá, ela passa pelo seu adversário. O mesmo ocorre no socialismo; o único modo de tornar os homens iguais é implantando o regime autoritário, mas os muros que este coloca em volta do povo ruirão algum dia, pois, como diria meu professor de história, o bom líder deve ser temido, sim; mas também deve ser amado.

Esse é o primeiro motivo que vejo para a derrota do socialismo, como também o principal, mais que isso, o único; sua sociedade não é moldada conforme suas necessidades, mas sim segundo regras rígidas e sólidas. Além disso, lembremos que somos todos homens, feitos de carne e osso e provadores do fruto proibido; o ideal socialista é belo, justo, digno de lutas, e até mesmo batalhas, para os mais extremistas, guerras; mas nós não somos dignos dele. O poder sobe à cabeça dos homens e os que ficam encarregados de governar acabam criando uma pequena elite ao seu redor.

Dessa forma, a única maneira de um governo socialista se manter e sustentar é se todos os seus integrantes, dirigentes e dirigidos, civis e militares, camponeses e cidadãos, pensem coletivamente e defendam a ideologia socialista à própria morte, fome, ganância e instinto; se algum destes se corromper, perde-se a essência socialista. Francamente, chega quase a ser irônico imaginar isso fora de um belo quadro.

Não dizemos que tal piada foi “forçada”, por isso não tem graça? Bom, acho que o mesmo acontece com o socialismo; enquanto o Estado tem que se preocupar em apertar aqui ou ali, modelar cá ou lá e forçar um pouquinho nas pontas para a coisa toda não explodir, a economia dos países liberais corre livre e solta; ao invés de tentar reverter o rio, as nações capitalistas simplesmente deixam seu fluir natural e desimpedido. Vamos concordar, desse jeito fica bem mais fácil.

domingo, 11 de outubro de 2009

Um Verdadeiro Demo

Um bom modo de analisar um governo é saber onde e como ele está investindo o dinheiro público. Penso que um governo que esteja representando sua população, deva investir em áreas fundamentais, como a saúde e a educação.

São a esses fatores que irei me apegar para fazer uma breve análise da direção de Kassab. A intenção da sua gestão, ainda no mês passado (Setembro), era de cortar cerca de 20% do investimento oferecido as empresas terceirizadas responsáveis pela limpeza da cidade. Ou seja, além do corte de gastos conseqüentes da contratação de uma empresa terceirizada para a efetuação do serviço, já que, deixa de ser de responsabilidade direta do Estado à preservação das diversas relações trabalhistas, condições de emprego e deixa, até certo ponto, de ter que negociar com os sindicatos, nosso governante queria diminuir as verbas direcionadas para essa ação tão fundamental para o cotidiano de uma grande cidade.

Contudo, foram esses mesmo sindicatos que, impediram que esse absurdo acontecesse. Com a paralisação de aproximadamente 20% da categoria, segundo o Selurb(sindicato nacional das empresas de limpeza urbana), o governo Kassab recuou em relação à efetuação de tais medidas. Já que, o próprio Selur afirma que esses gastos que são, aparentemente, de 20% entre o governo e as empresas, chega aos trabalhadores como se fossem de 40%.

Voltando ao foco, é bom deixar bem claro que, considero o serviço de limpeza como uma parte da saúde, pois essa atividade feita corretamente diminuirá e muito o número de doenças relacionadas à concentração de lixo, ou a falta de saneamento básico.

A virada cultural, também, sofreu muito. A edição do ano passado (2008) foi muito melhor organizada, com um número extremamente maior de policiais, garantindo, bem ou mal, a segurança, além de ter tido eventos, no geral, infinitamente melhores do que a deste ano, época na qual não há eleição. Portanto, na lógica governamental, não necessita ser formidável.

Se somarmos isso aos projetos apresentados no ano passado, pelo próprio Kassab contra seus adversários na busca da prefeitura da cidade de São Paulo, o atual prefeito, em poucos, ou até em nenhum momento demonstrou um projeto que visasse à melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas. As modificações seriam feitas em torno do material de construção da escola. A ex-prefeita, Marta Suplicy, era acusada de fazer escolas de “latão”. Inacreditávell, mas sua campanha educacional se baseou nesse dilema.

Realmente, não considero que o material com que a escola é feito, modifica de maneira tão contundente a qualidade do ensino, mesmo tendo sua relevância. Todavia, é muito estranho, um prefeito apresentar um projeto educacional baseado no espaço físico das escolas e não no conteúdo que será transmitido.

O mais recente escândalo foi exposto no dia 6/10 na Folha de S. Paulo. O artigo diz que Kassab planeja investir cerca de 105 milhões de reais em publicidade no ano das eleições. Ou seja, mais do que para a reforma de corredores de ônibus. Porém, o que mais chama atenção é que esse valor é superior ao que se pretende gastar na ampliação, reforma e construção de CÉUS e escolas de ensino fundamental. Será simplesmente o recorde gasto com publicidade na cidade. Mesmo há pouco tempo o prefeito tendo congelado muito dinheiro público, devido à crise financeira, para diversas áreas, Kassab não deixou de investir em publicidade.

Isso sem contar, no recente escândalo das merendas escolares, que visivelmente se apresentavam péssimas qualitativamente. Todos esses fatores demonstrados, já nos possibilitam criar uma idéia sobre a gestão de um Democrata, que mantêm a educação e a saúde precárias. Campos que interferem de maneira direta na população, onde governos que dizem se preocupar com as classes menos favorecidas deveriam investir financeiramente, e/ou por meio de novos projetos.

Logo, o partido democrata (DEM), de Gilberto Kassab, utiliza de um nome que deveria representar o interesse da maioria, sem desconsiderar a minoria, é claro, como alguns dos fatos citado acima explicitam, com o intuito de permanecer no poder. Fica nítido que ações para o interesse da maioria estão longe de acontecer.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mera coincidência?

Sendo a maior potência econômica e de maior influência geopolítica no âmbito global, os Estados Unidos fazem com que seu discurso seja sempre amplamente difundido.

Já no pós-Primeira-Guerra-Mundial, quando viu sua economia emergir, devido à ausência da concorrência produtiva européia, o discurso estadunidense resplandecia de idéias favoráveis ao liberalismo econômico. Enquanto a economia crescia na década de 1910, o presidente dos Estados Unidos, na época o democrata Woodrow Wilson, adaptou seu discurso, ao ser prevenido por seus assessores que tal prosperidade iria entrar em colapso, de modo a propor uma regulação econômica, que diminuiria os lucros, mas preveniria o país de uma crise de super-produção.

É de conhecimento geral que ele não foi ouvido: a década de 20 foi predominantemente governada pelos republicanos de discurso liberal e foi uma literal "festa-do-caqui". Mas a Crise de 29 se sucedeu e foi a maior crise de toda a história do capitalismo moderno, em escalas de expansividade e gravidade.

Essa crise moldou mais uma vez a política, tanto interna como externa, do país: o partido republicano, representando a burguesia nacional, na figura do presidente Herbert Hoover, ficou paralisado, e para sustentar seus ideais liberais propunha que deixasse que o mercado se auto-regulasse. E isso durou três anos, de 29 à 32, quando houve eleições.

Por ter proposto como plano, plano nenhum, Hoover perdeu drasticamente as eleições de 32 para o conhecido 32º presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, um democrata, que vinha propondo mudanças.

Essa sucessão, de um discurso antigo por outro que promete novos paradigmas é exatamente a que aconteceu recentemente, mais uma vez nos Estados Unidos.

Como se não bastasse, foi novamente o discurso do Partido Republicano que faliu, e o Democrata que apareceu prometendo mudanças. Obama, "Yes, We Can", e todo o pressentimento, internacionalmente propagado, de que agora os Estados Unidos vai mudar.

Conta com grande apoio internacional, mas não com tão grande prestígio dentro de seu próprio país. Inclusive, um dos fatores que aumenta sua impopularidade nos próprios EUA é a estatização que seu governo apóia, do sistema de saúde, que custará aos cofres da receita mais de 1 trilhão de dólares. Essa atitude faz com que Obama seja inclusive taxado de comunista por alguns opositores de seu próprio país.

Barack Obama trouxe na última quarta feira, no seu discurso à Assembléia Geral da ONU quais seriam as mudanças pelas quais o seu governo, representando a nação estadunidense, apoiaria

O país que até hoje conquista, através de guerras ou de influência cultural, praticamente o mundo inteiro, através do processo que é chamado de globalização, têm no início de seu discurso :" Nenhuma nação pode ou deve tentar dominar outra nação".

É dito isso, frente à conclusão que "Nenhuma ordem mundial que eleve uma nação ou grupo sobre outra vai ser bem sucedida". Essa frase explica por que o mundo apóia o que Obama defende em tese, mas seu próprio país não. Não é fácil conciliar aos mais ferrenhos defensores da Liberdade, que o valor da Igualdade tem igual peso, pelo menos na conjuntura geopolítica atual.

Faz com que os estadunidenses se remetam ao Comunismo, que é ensinado como sendo um sistema de produção maldito nas escolas públicas de todo o sistema de ensino dos EUA desde o começo do século XX.

. A atual estratégia geopolítica dos Estados Unidos vai muito além das características típicas da chamada política do "Good Neighbor" de Delano Roosevelt e Harry Truman nas décadas de 30 e 40, ultrapassa as barreiras continentais e tenta abranger um nível global, demonstrando através de seus discursos, como o de Obama no Cairo em Junho desse ano. Os Estados Unidos não mantém todos as suas posturas, como a de defender Israel independente das ações do país, mas algumas outras não mudam, ao referir-se no discurso de quarta-feira à Ahmadinejad e à pretensão iraniana de enriquecer urânio.

Não é mera coincidência que foram as propostas intervencionistas de Keynes que guiaram o New Deal de Delano Roosevelt, que se desviavam da predominante ideologia liberal, as que foram aprovadas pelos Estados Unidos na década de 30. E nem que hoje é o discurso de Obama o que recebe aplausos homogêneos na platéia da Assembléia Geral da ONU. Mas tantas mudanças, com o objetivo esclarecido por Obama : " ...minha responsabilidade é agir em interesse de minha nação e de meu povo". Mas não deixa de aliviar com " É minha crença profunda de que, este ano mais do que qualquer outro da história, os interesses das nações e das pessoas são compartilhados".

O que parece uma série de grandes mudanças no que diz respeito à política externa, soa dissonante ao conservador revezamento do poder entre apenas dois partidos políticos nos Estados Unidos. Em que medida se pode chamar de democracia uma manutenção tão regrada entre dois partidos que chegam ao poder? Desde 1789, apenas nove anos foram governados por partidos que não um dos dois: ou o democrata ou o Republicano.

Isso se deve à maneira como idéias e estratégias políticas são amplamente difundidas e acatadas pela sociedade dos EUA e depois de acatadas, dificilmente submetidas à segundas análises?

Se percebe, na análise da conjuntura econômica do país, que se pode responder à essa pergunta com um "sim": Somente em momentos de crise econômica, é que o país exportador do consumista "American Way of Life" se mostra disposto a apoiar idéias novas. E idéias novas, mas de partidos tradicionais. Não é de se indagar o quão conservadoras são as mudanças por lá?

sábado, 3 de outubro de 2009

A Luta de Classes

Por mais que muitos intelectuais da esquerda entendam que a sociedade de hoje é muito mais complexa que a de Marx e que, portanto, não pode ser apenas dividida por proletariados e burgueses, a luta de classes ainda existe. Recentemente, vimos que diversas categorias estão lutando e reivindicando seus direitos trabalhistas, como os bancários, os metalúrgicos, os funcionários terceirizados responsáveis pela limpeza e os empregados dos Correios.

Os bancários pararam cerca de 264 locais de trabalho com a adesão de aproximadamente 16 mil pessoas, segundo seu sindicato, atrelado a CUT(Central Única do Trabalhador). Os bancários se reuniram na quarta-feira e por unanimidade das aproximadamente 2 mil pessoas que compareceram a reunião, decidiu-se entrar em greve por tempo indeterminado por não concordar com o reajuste proposto pela federação dos bancos (FENABAN), que gira em torno de 4%. A modificação que seria importa também reduziria a PLR (participação nos lucros e resultados), além de não garantir melhores condições de trabalho para a categoria. As exigências dos trabalhadores são de que haja um reajuste salarial de 10%, aumento na PLR, proteção ao emprego e melhores condições de trabalho. O movimento parece estar tão organizado que, cerca de mil pessoas compareceram a passeata em nome da paralisação proposta pelo sindicato na sexta feira (25/09), na Avenida Paulista.

Além disso, segundo o Globo, no dia 21 de Setembro, os trabalhadores responsáveis pela limpeza da cidade entraram em greve. Estariam reivindicando a demissão de 1.868 garis pelas empresas do setor (568 já demitidos e outros 1.300 que seriam). Isso se agravaria, principalmente, com o corte de investimentos que era de interesse da gestão Kassab de aproximadamente 20% para as empresas responsáveis pela terceirização. Contudo, segundo o sindicato responsável pela categoria, Selur, por mais que os cortes girassem em torno de 20%, da prefeitura para as empresas terceirizadas, os reflexos nas empresas e, portanto, nos trabalhadores, estaria por volta de 40%. A greve, então, só seria suspensa se as empresas prometessem recontratar os demitidos e garantissem que não demitiriam mais. Porém, depois da paralisação do 21 de setembro, de aproximadamente 20% da categoria, o governo Kassab voltou atrás nos cortes de investimento as empresas, amenizando a situação.

Enquanto isso, os metalúrgicos, que costumam formar uma classe muito combativa, entraram em greve na sexta feira, dia 18 de Setembro, segundo a Folha de S. Paulo por tempo indeterminado. Os funcionários da GM de São Caetano do Sul e de São José dos campos entraram em greve pedindo reajustes salariais. Segundo o sindicato, 1.800 veículos deixaram de ser produzidos nas duas regiões na sexta feira devido às interrupções. Os representantes da greve do ABC não aceitam um reajuste menor ao desenvolvimento obtido pelas empresas que, portanto, lhes concederia um aumento real de 2%, além dos 4,4% da inflação do período, mais abono correspondente a um terço do salário médio do grupo.

Engana-se quem pensa que as greves param nos metalúrgicos. A comissão central de greve dos Correios admiti que 80% dos funcionários aderiram ao movimento, enquanto a direção dos Correios acredita que apenas 20% dos trabalhadores aderiram a greve. As reivindicações são muito fortes, desde o dia 12 de Setembro, exigem um aumento que não acontece desde 1995. Gostariam de um acréscimo de 47% do salário, mais 3% por causa da inflação e um aumento linear que gira em torno de 200 reais, além da contratação de 25 mil funcionários, com a garantia de melhorias nas condições de serviço. No entanto, a empresa oferece um aumento de 13% e de 4% para os que ganham maiores salários.

As contradições do capitalismo fazem com que os interesses de uma classe se sobreponham as demais, ou seja, as menos favorecidas. O sistema fundado na grande desigualdade entre as classes faz com que aquelas que estejam mais organizadas no âmbito sindical, consigam certos privilégios.

Agora, é um absurdo pensar na facilidade que os representantes da nossa democracia têm para conseguir certos privilégios. Os deputados federais e Senadores da república, inspirados pelo aumento dos Procuradores e Integrantes do Judiciário e dos Juízes do STF de 5% num primeiro momento e de 3% para o começo do ano que vem, fazendo com que seus salários passem para algo em torno de 26 mil reais, querem uma ampliação salarial que variaria dos atuais 16 mil reais para os 24 mil. É bom deixar claro que apenas a bancada do Psol é contra tais reformas.

Por outro lado, a base da nossa economia, ou seja, a força de trabalho nacional se submete a situações que podem deixá-los sem seus respectivos empregos, sem considerar que dificilmente conseguem os aumentos pedidos inicialmente pela categoria. Tratamos, também, de salários muito reduzidos se comparados aos dos deputados federais. Dinheiro que trata, em alguns casos, da sobrevivência de muitos, enquanto, em Brasília, do luxo e da ganância da maioria.

Isso deixa claro que a luta de classes está mais do que viva. Mesmo que nos nossos tempos tenhamos relações muito mais complexas, nosso sistema econômico, social e polítoc promove tamanha desigualdade que certas instituições que conseguem criar a noção de classe, grupo, ou, simplesmente, do coletivo, viabiliza a luta por uma maior igualdade social.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Reeleição, só do lado direito...

Acredito que todos acompanham na mídia a situação que vive Honduras no momento. O presidente eleito Manuel Zelaya, que já vinha em exercício e que foi democraticamente eleito pela maioria dos votos do país foi deposto. Em seu lugar como presidente interino, ficou Micheletti, um dos seus “companheiros de partido”. Micheletti, tem o poder garantido pelas forças armadas e está suportando diariamente diferentes protestos públicos por parte daqueles que defendem a constituição, não necessariamente Zelaya.

A ruptura deu-se no momento em que Zelaya, vindo de um partido de direita, passou a defender mais os interesses populares, aproximando-se de uma linha governamental como à que Hugo Chavez e Evo Morales fazem na Venezuela e na Bolívia respectivamente. Da mesma forma que estes, entre outras medidas populares, ele aumentou o salário mínimo e vinha procurando meios para que pudesse se reeleger, ato que ainda não é legalizado em Honduras. Zelaya convocaria um plebiscito popular para saber se poderia executar essa reforma constitucional. Porém, antes disso, o congresso criou uma lei que impediria o presidente de tomar decisões sobre mudanças constitucionais, que estas mudanças deveriam partir apenas do congresso. Decidindo passar por cima do congresso hondurenho, Zelaya foi deposto e extraditado de cuecas de seu país, caracterizando um Golpe de Estado liderado pelas elites hondurenhas.

Desde que sofreu o golpe, Manuel Zelaya passou a percorrer os países latino-americanos em busca de apoio, com uma comitiva de aproximadamente 70 integrantes e mais a sua família. Manuel Zelaya passou por países como Argentina, Paraguai, México e de todos os países que o receberam, o Brasil foi o país que manteve o maior reconhecimento de Zelaya como presidente hondurenho. O Presidente Lula o recebeu com regalias de Chefe de Estado, com direito à reunião particular e tapete vermelho.

Agora, há duas semanas atrás, Zelaya voltou escondido a Honduras e foi abrigar-se na embaixada brasileira, com toda a sua comitiva. Sabendo que contava com o apoio do governo brasileiro, Manuel Zelaya está sob a proteção do Estado brasileiro em Honduras. O governo já assumiu o apoio ao presidente deposto e no momento assiste de fora as negociações entre os órgãos de apoio e o governo interino de Honduras. A OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas) buscam achar uma forma de contornar pacífica e diplomaticamente a situação, contando com o apoio de países importante nas Américas, como Brasil e Estados Unidos.

Porém não venho aqui tentar identificar qual o lado certo ou errado, quem é o bem e quem é o mal nessa disputa. Venho dizer que não podemos pensar que o Brasil tem um papel apenas de observador nessa história hondurenha. Um país que é tão parecido com o Brasil, pois têm índices de desenvolvimento econômico e social que são bastante aproximados, vive uma situação política de crise e a meu ver essa situação nos faz pensar muito sobre o Brasil e sobre como a política mundial vem se desenvolvendo com o final da guerra fria.

O que pretendo destacar é como a reeleição pode ser vista em diferentes situações, já que este foi o maior motivo para que Manuel Zelaya sofresse o Golpe de Estado. No Brasil, o presidente Fernando Henrique também quis mudar a constituição brasileira, e conseguiu; de forma que um ano após ele fosse reeleito. Porém, o meio que ele utilizou para que pudesse se reeleger é, até hoje, um pouco desconhecido e controverso, motivo pelo qual deveríamos saber mais, porém com pouco destaque na mídia.

No mesmo momento que este embrolho vem se desenvolvendo em Honduras, o Presidente Colombiano, Álvaro Uribe, ficou mais próximo de seu terceiro mandato consecutivo. Reconhecido pelo seu combate contra o narcotráfico das FARC e agora recebendo o apoio dos Estados Unidos, nesta mesma batalha, e podendo até, ter em seu território uma base militar americana, para que o combate ao narcotráfico torne-se mais fácil (caso que também esteve na mídia alguns meses atrás). Porém, nenhum destes dois últimos casos, de FHC e Uribe, passaram pelo crivo das urnas populares, como queria fazer Zelaya. Não tendo passado pelas urnas, através de plebiscito, podem não representar realmente o que a população deseja, mas vale destacar que a mídia não faz essa crítica, hoje em dia, tampouco naquele tempo.

É um tanto quanto controverso dizer que Zelaya, Morales e Chavez são presidentes ditadores, ou que se colocam contra a tão intocável democracia defendida por todos estes órgãos que acima citei, já que se mantém no poder por seguidos mandatos. Se formos avaliar, tais presidentes têm, na sua maioria, o apoio popular em seus países e puderam reeleger-se depois de referendados pelas urnas. Porém, por defender mais o povo e em alguns momentos tomarem medidas bem mais próximas do socialismo não recebem o apoio dos países mais poderosos. Fazendo com que as suas reeleições sejam mal vistas e recebam tais críticas, já que representam certo perigo ao capitalismo e acabam ganhando essa conotação ditatorial que não é boa a ninguém.

Esta situação controversa nos demonstra apenas como os países mais importantes e mais desenvolvidos apóiam as reeleições. Não a veem como uma forma de demonstrar o que o povo quer, e sim como uma maneira de manter o controle sobre países de menor importância no cenário mundial. A meu ver, estes países poderosos e desenvolvidos comportam-se, nesta situação, com um pensamento assim: “Se este governo está alinhado ao meu modo de pensamento político e econômico, eu apóio a reeleição; se vai contra, mesmo que seja o que a população quer, eu me oponho.”. Demonstrando como os interesses destes nada têm a ver com a situação daquele ou deste país, tem a ver com as suas próprias intenções, na maioria dos casos aliadas aos interesses de uma elite rica e poderosa, que conta também com o apoio da mídia em seus países.

domingo, 27 de setembro de 2009

Você de Novo Sarney?

Depois da publicação da matéria pela Folha de S. Paulo do dia 17/9/09, a situação ficou complicada, ou pelo menos deveria, para José Sarney. Segundo o veículo de comunicação, Sarney mentiu para o Senado.

Mesmo depois de passar por uma série de acusações que não foram investigadas pelo conselho de ética, que por sinal eram gravíssimas, Sarney volta a mídia sob suspeita de faltar com a verdade no Senado.

Curioso que esta mentira está ligada as acusações que colocaram o Presidente do Senado na mídia recentemente. Sarney disse não ter nenhuma função administrativa na fundação que carrega seu nome em São Luís (MA). Porém, não foi isso que a Polícia Federal interpretou ao interceptar e-mails e ligações de Sarney.

Primeiramente, a fundação José Sarney era acusada de desviar 960 mil reais em 2004 do governo do Maranhão e 1,34 milhão de reais de patrocínios da Petrobrás entre 2005 e 2008. Verbas que seriam destinadas para a recuperação de acervos culturais, como livros e museus foram desviadas para empresas que não explicitam que tipos de serviços prestaram com esse dinheiro e, se são ligadas à família Sarney.

Os telefonemas interceptados apontam de maneira muito clara que Sarney estava envolvido no dia-dia da fundação. Um dos episódios que comprova isso é o fato de José Sarney ter ajudado sua neta, Ana Clara, a dirigir as decisões da fundação e dar conselhos para ela conduzir as negociações com o empresário Richard Klien, que curiosamente, ajudou a patrocinar a campanha de Sarney com 270 mil reais em 2006 e com 240 mil para a de sua filha para o governo do Estado do Maranhão.

Os fatos começam a vir a público de uma maneira que, moralmente, deixa insustentável a permanência de Sarney a frente do Senado. Se essas acusações são falsas, em relação ao desvio de dinheiro da fundação, não haveria motivo para o Presidente do Senado mentir. Isso necessita de no mínimo uma investigação, que englobe, também, as acusações que a pouco tempo foram arquivadas. Até porque, o conselho de ética considera quebra de decoro parlamentar faltar com a verdade no Senado, justificando a cassação do mandato de Luiz Estevão em 2000 pelos mesmos motivos que Sarney está sendo indiciado.

Mesmo com sua tropa de choque, comandada por Fernando Collor de Melo e com apoio de parte da bancada petista devido as recomendações do presidente do partido dos trabalhadores, a oposição tem uma excelente chance de protestar e fazer justiça, esclarecendo por meio de investigações todos esses fatos que estão muito mal explicadas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Mais um modelo para a classe média paulistana

Dizem que somos incultos, malvestidos, que não contribuímos para a sociedade funcionar como um todo. Os ladrões são vagabundos que não vão atrás de empregos e os pivetes que vem pedir dinheiro no sinal são brutalmente calados, num ato de extremo desinteresse por um vidro negro e blindado.


Após uma festa, num Sábado à tarde, observei o modelo da classe média alta paulistana que só enxerga o que há sob seu nariz e adora palpitar e esculachar o que, para tais, não é bom, não é normal. Na verdade eu estava sem ter muito o que fazer e resolvi me sentar num banco para observar, observar...


O banco em que me sentei ficava exatamente na porta do casarão branco. Lá sorria, ou mandava um tímido oi para cada convidado que atravessava o jardim. Todos estavam realmente bem vestidos. Os homens exibiam suas camisas Pólo, acompanhadas de calças e sapatos visivelmente comprados recentemente num Shopping Center. Porém o que mais chamou minha atenção foi que a grande maioria dos homens vinha acompanhado de uma esposa maquiada e com roupas poucos chamativas e uma filha ou filho pequeno.


Pensei que aquilo pudesse ser um molde. Percebi que a maioria dos casais tinha um único filho, resultado provavelmente da falta de tempo dos pais que trabalham “duro” para manter seu status. São vidas planejadas, sempre com o freio de mão puxado. São adeptos ao liberalismo, mas acreditam numa maior repressão policial e aplaudem de pé quando vêem ações como as do capitão Nascimento no lugar mais próximo entre ricos e violência policial - o cinema - afinal estão protegidos fisicamente e visualmente em seus bairros, suas bolhas. Dizem-se pais modernos, mas a liberdade dos filhos vai até a calçada e “ai” dele se pisar com o pé sujo no tapete e se cursar algo que não de dinheiro na faculdade.


A partir dessas ações, é perceptível uma grande diferença no conceito de modernidade. Pai moderno não é aquele que dá um celular precocemente, ou joga vídeo-game com o filho. Pai moderno é aquele que da liberdade de escolher, ir e vir e mais do que tudo, confia na sua cria.


Sem dúvidas há a preocupação em passar uma imagem de família perfeita (unida, feliz e normal) para a criança. Esta absorve o discurso da família e juntamente com a imagem dos pais heróis, constrói uma grande dependência que pode se tornar perigosa, a partir do momento em que a criança só se sente segura ao lado dos pais. Além disso, passa a reproduzir a mesma linha de raciocínio dos pais que muitas vezes acaba sendo preconceituosa ou exime indivíduo e bolha de qualquer culpa, mesmo que a tenha.


Apesar das críticas, acho importante ressaltar que eu, ainda assim, vejo um grande potencial de mudança, tanto em algumas mentes realmente boas e inteligentes, quanto nos olhos brilhantes das crianças que estudam nos melhores colégios da cidade e se preparam para dar continuidade à elite.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Violência na Juventude

Este texto tem a possibilidade de ser publicado no Jornal Cantareira. Jornal de Bairro que circula em parte da Zona Norte de São Paulo.


A violência na juventude é um assunto de grande relevância para a sociedade e, no entanto, não tem a atenção que merece. O vandalismo nas escolas, em especial, nas públicas, reflete a violência e suas diversas facetas. O agravante aparece quando tratamos da juventude, que será a administradora do futuro, ou quem sabe, a educadora de amanhã.

Este problema tem tamanha grandeza devido as suas conseqüências, pois se analisarmos com calma, veremos que tratamos de uma questão aparentemente simples, que envolve a nossa irracionalidade. Um ótimo exemplo para isso é a destruição das escolas pelos próprios alunos.

Se refletíssemos de maneira sensata, teríamos como resposta que, a escola, ou o espaço público de um modo geral, pertence a nós. Nós pagamos por tudo isso. Será que se essa consciência fosse de alcance geral da juventude, teríamos esse número de objetos quebrados? Como um representante dela, creio que não. Até porque, não é do costume de ninguém, quebrar seus próprios bens, já que todos nós sabemos do sacrifício que nossas famílias têm em bancar esses pertences.

Manifestação que poderia ser interpretada como uma indignação dos jovens em relação ao pouco caso que as autoridades governamentais têm em relação à educação pública do país, se esse ensino, qualitativamente, possibilitasse uma reflexão mais aguçada sobre a falta de interesse do poder estatal sobre o ensino da maioria. Contudo, o caminho para que essa postura mude, não é por meio da destruição do espaço público, ou neste caso, das escolas.

No entanto, isso não deve ser justificado somente sob a ótica econômica, pois a questão abarca a nossa irracionalidade. Por isso, penso que tratamos de questões de simples aparência, como: Por que fazem isso? Refiro-me aqui, novamente, ao vandalismo nas escolas.

O vandalismo não justifica de modo algum a situação precária na qual a educação pública no Brasil se encontra, todavia, certamente é um sintoma de que algo está errado. Há uma desordem instaurada que possibilita uma contestação em relação à falta de interesse dos governantes sobre o ensino da grande maioria do país.

Por outro lado, devemos refletir sobre algumas das nossas atitudes que são visivelmente movidas pela nossa irracionalidade. Pensar nessas ações e tentar entender porque as executamos é um bom começo para depois, demonstrar de outro modo nossa insatisfação perante o estado da educação no nosso país, sem que seja necessário quebrar nada.

domingo, 13 de setembro de 2009

Maldito Vício

O vício é mesmo uma droga, e drogas, viciam. Mas desde quando alguém liga? O tráfico delas é uma das atividades mais rentáveis no mundo inteiro, e isso só engloba as ilegais. Esquecemos dos remédios, do álcool, do tabaco e de uma das drogas favoritas da humanidade, nosso querido cafézinho.

Pois é, o café é uma das drogas mais consumidas em todo mundo. É estranho pensar que de todos os venenos que existem por aí; cocaína, maconha, LSD, Mc Donalds; o que mais gostamos é aquela xicrinha de 50 ml de uma bebida amarga, quente a ponto de queimar a língua e que amarela os dentes.

Ta certo, ta certo... estou exagerando. Se fosse só isso eu não o idolatraria, nem eu nem mais da metade dos homens e mulheres do mundo, não somos tão otários assim. Afinal, vale a pena uns aninhos a menos e uns dentes um pouco mais escuros por um cafézinho depois do almoço. Melhor que isso! De vez em quando, cedinho de manhã, naqueles sábados nublados, antes mesmo do sol evaporar as gotinhas de orvalho debaixo das folhas, acordar e preparar o primeiro café do dia. Rejeito qualquer maquinário que tenhamos inventado para executar tal tarefa. Côo o meu café sozinho, afinal, se sou eu quem vai tomá-lo, nada mais justo do que eu mesmo fazê-lo.

O primeiro passo é separar uma folha de coador de papel. Antigamente, quando os coadores eram de pano, esse começo deveria ser mais divertido. Talvez nem fizesse tanta diferença, mas esses coadores novos, principalmente os recicláveis, me dão uma sensação muito artificial.

Depois é preciso enfiar a folha dentro do funil e por o pó lá dentro. Ah, adoro essa parte. Às vezes minha mãe compra uns cafés altamente luxuosos aqui em casa, de grãos selecionados, colhidos assim e torrados assado; isso sem falar dos cafés gourmets que aparecem no armário. Esses são especiais, alguns tem aroma de baunilha, outros de trufa de chocolate, amêndoas... Nunca resisto, sempre me flagro cheirando o coador depois e deixando escapar um longo suspiro... Hmmmmm...
Para ferver a água conto um copo para cada cinco medidas de pó. Aí encho a menor chaleira que consigo encontrar e a levo ao fogo mais alto possível, sempre tapada por um pires ou um prato. Não tenho muita paciência para ficar lá parado olhando, por isso faço de tudo para que essa parte seja o mais breve possível.

Quando a água começa a ferver encho a garrafa térmica com ela e despejo tudo de volta na chaleira. Aprendi isso com o meu pai, deixa o café mais quente; o mesmo vale para a xícara, caso queira apreciar a bebida em pequenos goles, sem pressa, para não queimar a boca.

Agora vem a parte que faz tudo valer a pena, a hora de coar. Encaixo o funil na boca da garrafa térmica e, lentamente, despejo a água que ainda insiste em borbulhar conforme cai da chaleira. No começo consigo ver o pó se misturando à água, depois de alguns instantes já está tudo enmingalzado, aquela água grossa, negra. O cheiro de café impregna o ar, como uma mixirica em uma sala de aula, ou uma dama da noite em uma noite de verão.

Não há nada como o cheiro de café sendo coado. Gosto de, agora, sentar e esperar, fechar os olhos por alguns instantes e sentir aquele aroma, forte, embriagante, sedutor.

Alguns minutos depois o café está pronto. Sirvo-o em uma pequena xícara e, em alguns poucos goles, acabo com ele. Olho para o relógio da cozinha, ainda são oito horas. “E agora”, penso, “o que faço até meio dia?” Maldito vício...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Será o Bilhete Premiado da Esquerda?

Que o PT passa por uma crise de identidade, dificilmente alguém pode negar. Tensão que acontece devido à diferença das suas ações em comparação com a ideologia que o fundou, a socialista. Depois de passar por diversos problemas, o partido tem no Pré-sal, um programa que pode recuperar as suas raízes esquerdistas.

Essa crise pode ser expressa pelo suposto envolvimento de membros do partido com o “mensalão”, pelos dollares escondidos na cueca do assessor parlamentar do membro do partido, José Nobre Guimarães, dos problemas em relação à eleição do presidente do partido, que gerou, também, a saída de diversos membros ilustres da sigla, além do recente arquivamento das acusações do presidente do Senado, José Sarney, que teve apoio de membros do PT no senado, inclusive do presidente da instituição, Ricardo Berzoini.

Componentes como Ivan Valente, Plínio de Arruda Sampaio, Heloísa Helena, Luciana Genro, Chico Alencar, Luiza Erundina, a ex-prefeita de São Paulo e os mais recentes, Senador Flávio Arns e Marina Silva, a ex-ministra do meio ambiente deixaram o Partido dos Trabalhadores nos últimos tempos.

A crise fica evidente na medida em que o presidente do partido faz uma declaração, que segundo Ricardo Berzoini, era mais uma recomendação a bancada petista do Senado, para que votassem a favor do arquivamento das acusações a José Sarney. E, o líder do PT no Senado, Aloísio Mercante, se recusou a ler a recomendação de Berzoini por discordar das suas posições. Isso se considerarmos que tratamos de acusações gravíssimas ao Presidente do Senado, entre elas, nepotismo, um suposto desvio da Fundação José Sarney e da omissão de uma propriedade de 4milhões de reais da Justiça Eleitoral.

Essa decisão fez com que Flávio Arns se sentisse envergonhado com a determinação do partido e da ação dos seus membros em relação ao arquivamento, pois, para ele, o partido rasgou e jogou no lixo as bandeiras éticas e transparentes que ajudaram a eleger o presidente Lula: “O poder e a ambição de se manter no poder mudaram o PT. Este não foi o partido que eu entrei há oito anos” disse Arns. Também fez com que o Senador Eduardo Suplicy mostrar o cartão vermelho a José Sarney, símbolo do futebol que representa a eliminação de um atleta dentro da partida, devido a alguma irregularidade cometida. Neste caso, porém, o “expulso” se tratava do Presidente do Senado, por causa das acusações que a ele foram feitas.

Os governos que antecederam ao de Lula foram os de FHC e de Fernando Collor de Melo. O partido dos trabalhadores e o atual presidente Luís Inácio, sempre apareceram com um discurso distinto ao dos dois citados. Tudo nos indicava que com a eleição do presidente petista, teríamos um fim às privatizações, porém, não foi o que aconteceu, contrariando, novamente, os ideais que fundaram o partido, que nos guiava a pensar em ações estatizantes, com empresas em campos chaves da economia sendo dirigidas pelo governo, com lucros restritos aos cofres da nação. No entanto, segundo a Wikipédia, o governo Lula privatizou cerca de 2,6 mil quilômetros de Rodovias Federais. Além das vendas dos Bancos do Estado do Ceará, do Maranhão e das Hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau.

Outro fator chocante é que até mesmo o nosso símbolo de empresa nacional, a Petrobras, tem investidores privados com boa parte das suas ações. No ano de 2003, primeiro ano da gestão de Lula, segundo a Folha de S. Paulo, a União tinha cerca de 55,7% das ações da Petrobrás. No entanto, em 2009, segundo Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, a participação da União nas ações da Petrobrás caiu para 32,2%. Isso porque estamos em um governo de um presidente que deveria representar a esquerda, os movimentos sindicais e não uma gestão com ações neoliberais.

Entretanto, o governo Lula pretende mudar essa política em relação ao Pré-sal, pois parece disposto a comprar mais ações da Petrobras. Porém, devemos tomar cuidado com essa medida, pois será a principal bandeira da provável candidatura a presidência de Dilma Rouseff nas eleições do ano que vem, enquanto tentaram deixar bem marcado que a campanha do PSDB será baseada nas privatizações do Pré-sal. Mas não sabemos se isso será usado apenas como campanha eleitoral, para depois o partido voltar a uma normalidade anormal de uma sigla fundada na causa trabalhadora, já que, dizer que petróleo é nosso é fácil, difícil é manter essa postura.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Papel do Homem na Modernidade

A modernidade é um projeto criado pelo próprio homem com o intuito de melhorar suas condições de vida através de conhecimentos e tecnologias. Além disso, tenta guiar nossa vida por meio de conhecimentos científicos, não religiosos e etc. Porém, será que ainda somos o objetivo dela?

O meio de organizar e modernizar o mundo hegemônico, desde o final da guerra fria, ou da queda da URSS, é o capitalismo representado pelos EUA. No entanto, devemos averiguar se o modelo capitalista proposto pelos Estados Unidos e seguido pelo governo brasileiro tem o homem como principal objetivo.

Segundo a Folha de S. Paulo do dia 5 de agosto de 2009, as empresas responsáveis pela construção civil deixaram de investir em equipamentos de segurança por causa da recente instabilidade financeira global na qual presenciamos. Logo, essas empresas passaram a ter seus trabalhos menos exigidos. Todavia, talvez, não tenham tido grandes abalos financeiros, pois seus gastos passaram a ser muito menores no momento em que deixaram de investir em materiais de segurança para seus empregados. Essa atitude gerou um aumento de 33% nas mortes da construção civil de Janeiro até Julho do ano de 2009, se compararmos com a mesma época do ano passado.

Algum tempo atrás, para muitos intelectuais, o trabalho era o maior valor social. Logo, o homem era apenas um trabalhador usado para mover a economia, deixando sua personalidade em segundo plano, já que era definido socialmente com base na sua ocupação trabalhista. Contudo, hoje em dia, para certos pensadores, o trabalho passou a ser meio para o consumo, maior valor social. Justificando o fato dos EUA injetarem dinheiro no mercado financeiro para terem pessoas trabalhando e, como conseqüência, comprando. Aliás, esse foi o anúncio do ex-presidente americano, George W. Bush depois da morte de diversas pessoas no trágico 11 de setembro: “Vão às compras”, ou seja, movam a economia. Afinal, o mais importante era o problema que isso poderia gerar nessa super potência e não o fato de muitas pessoas terem perdido suas vidas.

O choque, entretanto, se torna mais forte quando escutamos a média salarial dos cortadores de cana, que segundo o representante do Mistério do trabalho, Roberto Figueiredo, são a elite da colheita agrária no Brasil, devido às “boas” condições e salários se comparados às outras colheitas manuais.

O dinheiro recebido pelos cortadores representa uma parcela mínima do lucro de qualquer objeto vendido pela Usina. Isso se considerarmos que essas pessoas são responsáveis pela parte mais sacrificante do processo social da produção do açúcar e/ou do álcool, pois são eles que se submetem a um desgaste físico desproporcional.

Enquanto essas empresas aproveitam tudo para gerar mais e mais dinheiro, deixam seus trabalhadores vulneráveis a acidentes e, pagam a um cortador aproximadamente 30 centavos a tonelada cortada, como foi dito por um representante da Usina sucroalcooleira São Francisco. Isso sem considerarmos que o desgaste diário de um cortador de cana é semelhante ao de um jogador de futebol numa partida de aproximadamente 8 horas.

Portanto, se o homem é o centro da modernidade e tem que passar por essas situações, não quero nem saber o que poderia nos acontecer se não fossemos o foco dela.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qual é a várzea?

Quantas vezes já ouvimos dizer: “Ah, se fosse na várzea!”? Sem dúvida foram muitas. Aquele que avalia essa frase como apenas uma exaltação do ego dos locutores está um tanto quanto enganado.

Meus senhores, minha senhoras, sem nenhuma dúvida, os tempos mudaram e a várzea realmente não revela mais os craques de antigamente. Ela acompanhou o crescimento das cidades, foi modificada, substituída em parte pelas quadras de futsal e futebol society, dizem até que deixou de existir. Porém não me resta nenhuma dúvida, na várzea tudo ainda é diferente; hoje usam o seu nome em vão e a várzea ganhou uma nova conotação que agrega valores como falta de organização e de qualidade.

Poucos são os que sabem que a única coisa de “várzea” que o futebol de várzea tem realmente é a condição sofrível de seus campos sem tratamento, sem incentivo estatal ou privado, que ainda existem pela ação de poucas pessoas ou pequenos grupos que sempre atuam em alguns lugares. E as poucas ações privadas que existem ali não tem objetivo de devolver à várzea sua glória, torná-la novamente um seleiro de craques, mas sim de puro patrocínio para fins comerciais.

Quando se trata de paixão, amor e entretenimento ela é muito maior que qualquer outro lugar. São nos campos de terra batida e nas favelas que moleques tornam-se craques, assumem papéis e ganham a importância que muitas vezes não tem no seu cotidiano de trabalho. Há dois sábados atrás mesmo, um atacante de Guiné-bissau do time adversário ao meu teve o seu nome gritado no estádio depois de fazer o gol da classificação de seu time no torneio municipal “Jogos da cidade”.

Como um jovem nesse quesito e já tendo experimentado algumas vezes essa sensação de importância e valor, posso dizer que é na várzea onde o futebol prazeroso realmente acontece. Nos campos belos por onde as estrelas desfilam só podemos ver o interesse em suas cifras aumentarem cada vez mais, poucos são aqueles que resistem e levam a várzea para o campo.

Não me resta nenhuma dúvida de que com a comercialização do futebol profissional, bem como a sua globalização, com clubes perdidos e desorganizados, com jogadores desinteressados, com valores completamente questionáveis (não me refiro à economia) demonstram que as características que são atribuídas à várzea estão mais presentes no futebol profissional. E ao outro, bem mais aguerrido e cativante, o verdadeiro nome de futebol.

domingo, 30 de agosto de 2009

"Froot Loops"

De todos os adjetivos que podem classificar a vida; bela, dura, louca, longa, curta, besta; engraçada é o melhor. Outro dia estava no supermercado com minha mãe, passeando por aquele labirinto de prateleiras, quando me deparei com um caixa que não via há anos, a de “Froot Loops”. Imediatamente voltei no tempo. Lembrei de quando tinha cinco ou seis anos e ver aquele tucano era a coisa mais feliz que podia acontecer no café da manhã. De como eu enchia a xícara de sucrilhos até a boca e depois completava com leite. As colheradas imensas e as argolinhas que insistiam em cair da colher. Os gritos de reprovação da minha mãe. O açúcar no fundo. O gosto artificial de fruta. As lembrancinhas de plástico. Os joguinhos da caixa.

Logo em seguida lembrei dos outros dois bichos que viviam marcando território na mesa lá de casa, um elefante e um tigre. O primeiro era marrom e ficava estampado na caixa de “Choco Krisps”, já o segundo é famoso , garoto propaganda da “Kellog’s”, que eu ainda vejo nos comerciais de TV.


Sempre achei que era coisa de velho falar “Ah, nos meus tempos...”, mas bateu uma puta saudade daquilo tudo. Não só do café da manhã, não, mas do almoço, jantar e lanchinho da tarde, isso sem falar em todos os assaltos ao armário. Até da natação, que eu odiava e só fazia sob ameaça de castigos. Ia chutando, esperneando, fazendo birra, tudo para não ter que colocar uma sunga e pular na água, o que, ironicamente, agora faço de livre e espontânea vontade.


Certo, um cereal que cause tamanho impacto em mim merece ser comprado. Peguei a caixa e, para não ouvir nada a respeito de minha mãe sobre como aquilo é uma porcaria, a coloquei discretamente no carrinho, cheio, por sinal, mesmo que só tivéssemos parado lá para comprar pão e leite.


Porcaria, ora essa. “Froot Loops” pode ser tudo, menos porcaria. Mas isso não vem ao caso, minha mãe só veio ver o sucrilhos aqui em casa, quando lotei uma xícara até a boca, completei com leite, dei uma colherada monstruosa que fez metade do cereal cair no caminho, senti aquele gostinho de fruta artificial e, agora sim, tive que ouvir dona Cláudia dizendo: “Quem foi que comprou essa porcaria?!”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Racionalização da Irracionalidade

O niilismo, já citado em outros textos publicados neste Blog, conceito criado pelo filósofo Nietzsche, precisa ser repensado na nossa atual sociedade. No entanto, antes de desenvolvê-lo, vamos retomá-lo. O niilismo é o nada. Nossa sociedade é niilista, porque nossas ações são baseadas numa cultura ressentida que preza pela culpa, fazendo com que não tenhamos prazer em viver, pois muitas vezes, prezamos por um além mundo e esquecemos-nos de viver este. A reclamação, marca do niilismo, acontece como reação a algo referente à nossa atual cultura, que é formada inclusive, nos valores cristãos. Mas reagir a uma cultura é agir dentro dela mesmo através dos seus princípios, tornando impossível qualquer tipo de mudança profunda, pois essa reação de nada contribuirá.

Nietzsche denuncia Descartes e seu dualismo, sua racionalização das ações humanas, que ocorrem no momento em que atribui aos nossos sentidos e afetos valores negativos, pois são considerados por ele como fontes de erro para nossa razão. E por fim, por louvar e credenciar a moral cristã como algo positivo, já que não conseguiu construir nenhuma outra moral baseada na razão. Criticou, também, profundamente Kant, que foi considerado por ele como o operário da filosofia, pois formulou e moldou a moral reativa da época. Este colocou o homem como um fim em si mesmo, de maneira contrária a pensada por Nietzsche, que nos considerava como um meio para o super-homem, assim como os nossos antepassados, macacos, serviram de meio para o homem.

No entanto, o niilismo dos dias de hoje perdeu o caráter racional da época de Nietzsche. Talvez, estejamos mais afundados no niilismo, do que aqueles que viveram na época de Nietzsche, de modo que ele passou a acontecer de maneira irracional. Além do fato de que o homem possui e utiliza cada vez mais métodos, dos modos mais descarados sobre o próprio homem para controlá-lo.

Passamos a ter ações que geram nada, que não tem intenção de propor algo diferente e que, agora, não tem nem sentido. Apenas para citar um exemplo que não será tão desenvolvido; mas as torcidas de futebol agridem e até matam torcedores de outros times, porque não seguem a sua equipe. Não há motivo para matar alguém de outra torcida apenas, porque o sujeito tem apego por outra instituição futebolística.

Contudo, algo mais recente que pode explicitar de maneira mais contundente o meu objetivo é a Igreja Universal, que utiliza da apelação religiosa para lucrar em cima dos seus fiéis e, como consequência, manter contas no exterior. Além da compra de um sítio, diversos outros objetos foram aderidos com o dinheiro de muitos que pouco tem, mas que acreditam fielmente na palavra de Deus.

Esses são os últimos homens, aqueles que para Nietzsche sabem que Deus não existe, mas agem como se ele existisse para, assim, terem proveito sobre as massas que são usadas como manobra e rebanho dependendo dos interesses dos seus representantes.

O controle e a arrecadação sobre seus fiéis é tão grande que essa igreja passou a ter o poder de comprar uma das maiores emissoras de televisão do país, a Record. Adquirindo assim, um dos maiores meios de comunicação da humanidade, a televisão.

A dúvida que passo a ter é que; se o poder de manipulação dessa igreja já é alto a ponto de um dos maiores jogadores de futebol do mundo, Kaká, doar milhões em dinheiro anualmente e, diversos outros doarem o que tem e o que não tem, imaginem com o controle de uma emissora que cresce dia a dia seu Ibope, ameaçando até a poderosa Rede Globo. Torço para que esse meio de comunicação não seja usado com o intuito de direcionar o homem propositalmente, favorecendo os interesses da Igreja Universal. Portanto, podemos notar que, por trás dessas ações irracionais, há interesses racionais para Descartes ou Kant nenhum “botar defeito”.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Seriam os Farrapos Revolucionários?

No ano de 1835, mais precisamente no dia 20 de Setembro de 1835, em meio a gritos fortes e alegres de independência, é proclamada pelo coronel Neto a República Rio-Grandense, cuja capital era a cidade de Piratiny.

A república foi proclamada em meio a uma guerra movida por interesses patrióticos e principalmente econômicos entre grandes estancieiros Rio-Grandenses e tropas imperiais, até então sob o comando de Dom Pedro I.

Após declarar independência, se juntaram à causa Rio-Grandense pessoas que lutavam por ideal, como o italiano Giuseppe Garibaldi que lutava por democracia; grande parte dos negros que buscavam sua liberdade, como os havia prometido os líderes da revolução.

A revolta dos Farrapos foi a maior guerra civil em território brasileiro da história, chegando a durar dez longos anos. Acredito que a longa duração se deu pela gana ideológica dos Farrapos, já que ao longo dos dez anos de batalha sempre estiveram em minoria e menos equipados.

Há quem diga que a guerra não foi uma revolução, já que a nobreza Rio-Grandense é que ficaria no poder, não havendo, portanto, uma mudança de classe significativa. Apesar de saber que a luta se originou por divergências econômicas, e que o que realmente interessava aos grandes estancieiros eram as melhores condições de comércio de seus produtos, vejo a revolução como uma enorme fonte de inspiração inovadora, que segue até hoje no coração de cada Rio-Grandense.

Eles lutaram pela nobre causa da liberdade, contra um império que não oprimia somente os estancieiros, mas cada cidadão livre ou escravo. Mesmo querendo se separar do império, lutavam com as cores verde e amarelo de sua pátria mãe, juntamente com o vermelho, cor revolucionária que homenageava o sangue derramado dos Rio-Grandenses em todas as batalhas que ocorreram na região, muitas delas defendendo o próprio império brasileiro.

Em seu hino vangloriavam a virtude e glorificavam a república ateniense. Além de tudo, respeitavam as diferenças e admiravam a bravura dos soldados romanos: ”Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

É por esses motivos que acredito no título de revolução para essa guerra que começou movida por interesses e acabou sendo movida por ideais.

- Camaradas! Gritemos pela primeira vez: Viva a República Rio-Grandense! Viva o exército republicano Rio-Grandense! – General Antonio de Souza Neto, 11 de Setembro de 1836.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quem Nunca Quis Jogar Calvinbol?


Sei que muitos já sabem quem são os dois, mas, para quem teve o infeliz desprazer de nunca ter se deparado com uma tirinha da dupla, Calvin é um menino loiro, hiperativo, de seis anos de idade que sempre anda acompanhado por seu tigre de pelúcia, que é real para os olhos do garoto, Haroldo.

Não faz tanto tempo que vim a conhecer a obra de Watterson, autor de “Calvin e Haroldo”. Na verdade, acho que demorei tempo demais para ler algum dos deliciosos quadrinhos dos dois, mas bastou fazê-lo para começar a devorar seus livros, sempre com os olhos embaçados de lágrimas e com gargalhadas jorrando pela minha boca.

Não tenho dúvida alguma de que Calvin é meu principal ídolo feito a lápis, logo atrás dele estão o Homer, que dispensa apresentações, o Billy, das “Terríveis Aventuras de Billy e Mandy”, e o Peter, do “Family Guy”. Bom, não é fácil estar acima de todos estes personagens geniais, mas para mim o humor de Calvin é, digamos assim, mais “puro” que os dos demais, pois a piada é a própria situação em que um garoto de seis anos acompanhado de um tigre de pelúcia consegue se meter, não conta com comentários racistas, estúpidos ou nojentos, como é o caso dos outros.

Nesse ponto, Watterson foi bem eficiente. Ele conseguiu captar bem o universo infantil em seu trabalho, escrevendo situações um tanto quanto anormais, mas perfeitamente aceitáveis para um garoto como Calvin. Lembro que eu também tinha uma espécie de Haroldo, mas não tão engraçado quanto o tigre; um pedaço de pano que chamava de “mimi”, parecido com aquele lençol do Linus no “Minduim”. Além disso, quem nunca pensou em explodir a escola alguma vez? Qual garoto não adora acordar cedo nos fins de semana para ver desenhos e comer todo o tipo de guloseimas que conseguir? Quem nunca quis jogar Calvinbol?! Duvido que alguém, quando criança, gostasse de tomar banho ou de ir dormir cedo. Eu mesmo fazia com a minha mãe uma espécie de rodízio, uma vez por semana eu tinha o direito de ir dormir sujo.

Mas ainda que tenhamos algumas semelhanças, nunca fui como o Calvin, quem me dera... Meu “mimi” nunca falou comigo, nem nunca consegui virar um astronauta, ou um super herói, isso quem fez foi o meu irmão, o que resultou em uma série de pontos em seu queixo.

Mas, pensando bem, talvez seja bom não ser o Calvin... fosse esse o caso, você já imaginou quantos remédios para hiperatividade teria que tomar? Mesmo assim, gostaria de ter jogado Calvinbol.

sábado, 22 de agosto de 2009

Será o Fim da Crise?

Não precisei nem especificar no título de que crise estou falando, porque desde o fim do ano passado, escutamos notícias e mais notícias falando dos graves problemas de empresas como a AIG, GM, da possível inflação de países como os EUA devido ao alto investimento público e até do medo de diversas nações espalhadas pelo mundo da menor arrecadação dos seus respectivos PIBs.

Escutei muitos dizendo, inclusive professores, que essa talvez fosse a crise que colocaria um ponto final no capitalismo, que teríamos de viver de outro modo, já que este sistema estava nos dando adeus. Não estou crucificando nenhum professor, porque cheguei a acreditar nisso também, pois além das aulas, me baseava nas reportagens que tentavam demonstrar a situação do mundo, nos efeitos que essa crise causou na China, país que crescia de maneira expressiva ao ano e, que passou a ter uma debandada de pessoas da cidade de volta para o campo por causa do fechamento de diversas indústrias.

Curioso que a crise, segundo economistas, começou nos EUA com um processo em cadeia. Os bancos precisam investir e emprestar, pois é através dos juros que aplicam sobre esse dinheiro emprestado que geram seus lucros. Portanto, passaram a investir e, emprestar às pessoas que são consideradas de risco, pois aquelas que teriam como pagar, seguramente, nos EUA, não precisavam de dinheiro. Deixar de emprestar para essas pessoas que talvez não pudessem retornar o dinheiro cedido pelo banco e, não emprestar para ninguém, como conseqüência, era estagnar o crescimento desses bancos. Essas pessoas que são consideradas de risco deixaram suas casas, carros ou outros pertences como garantia para os bancos. No final das contas, muitos bancos passaram a ter diversas casas, porém sem compradores e com um grande buraco financeiro devido às dividas que foram feitas.

No entanto, essa é uma visão mais liberal ou neo-liberal baseada nos princípios de Adam Smith e outros economistas chamados de clássicos. Um modo de analisar essa crise é à velha maneira marxista. Ainda mais nesses tempos em que muitos previam o fim do capitalismo, o discurso de Marx explicitado em uma das suas maiores obras “O Capital”, foi recordado, exclusivamente, com a parte e a idéia de que as contradições do capitalismo levaram ao fim desse sistema.

Porém, certas matérias jornalísticas mais recentes nos fazem pensar que este talvez não seja o fim do capitalismo e, que talvez as previsões de Karl Marx terão de esperar mais um tanto para o mundo vê-las concretizadas.

Enquanto isso não acontece, quem sabe não seja interessante nos apegar a outro economista, mais recente que Marx, Shumpeter. Ele acreditava que o capitalismo tinha fases de crescimento, recesso, depressão e que entre uma fase depressiva e um novo crescimento, estava a criação de novas tecnologias que empurrassem novamente a economia mundial para cima.

O mercado mundial atual aparenta uma maior estabilidade se comparada a tempos recentes, embora, ainda não possamos dizer que estamos em um crescimento econômico global, pois para recuperar todos os empregos perdidos demoraremos bastante, caso isso venha a acontecer um dia.

Um bom exemplo a ser analisado foi exposto na Folha de S. Paulo do dia 4 de agosto de 2009, quando se publicou que a Bovespa atingiu o maior patamar de desenvolvimento desde agosto de 2008, de 2,25%, atingindo assim, 55.997 pontos. Enquanto isso, a matriz do capitalismo, EUA, também dá sinais de que sua reestruturação está acontecendo, pois sua bolsa superou pela primeira vez a marca dos mil pontos desde novembro de 2008, ano em que a crise se agravou.

Além dos aumentos das bolsas dos EUA e do Brasil, tivemos o primeiro registro de alta nas vendas da Ford desde novembro de 2007, enquanto no Brasil, o Bradesco teve um grande lucro neste trimestre, cerca de 4 bilhões de reais, mesmo considerando que a inadimplência tenha aumentado. Isso representa um aumento de quase 3% em relação ao mesmo lucro líquido do Bradesco do ano de 2008.

Segundo David Dietze, economista da Point View Financial Services, "São novos dados mostrando que provavelmente a economia dos EUA começa a se recuperar. E que, provavelmente, o pior da crise tenha ficado para trás". David comenta as demonstrações de crescimento da economia americana, que se desenvolveu baseado nos gastos públicos na construção civil que tiveram crescimento recorde no mês de julho de 2009. Agora, nos resta apenas esperar e saber se esse otimismo em relação ao capitalismo é apenas um otimismo ou, uma realidade.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A Vinda do Carnaval para São Paulo

Com a diminuição maciça do samba no interior paulistano, começa a transição do “samba rural”, como chamou Mario de Andrade, para o samba da capital.

A cidade de São Paulo, antes do rápido crescimento entre o final do século XIX e o começo do XX, não centralizava a cultura paulista do estado. Cidades como Santos e Campinas eram neste aspecto de uma importância tão grande senão maior que São Paulo. Porém, depois deste período de crescimento, ela se tornou sem dúvida a maior referencia cultural do estado.

São Paulo assistia a uma grande expansão populacional e geográfica influenciada pela forte imigração que acontecia para ela e a abolição da escravatura. Devido a estes fatos, a capital se caracterizava pela mistura de tradições coloniais de ascendência portuguesa, dos afro-descendentes e de europeus vindos de diversos países.

Porém, a convivência tranqüila entre eles não era algo que acontecia por todo o perímetro urbano. Havia uma resistência da elite em aceitar a influência dos imigrantes e ainda mais dos negros libertos. O convívio democrático entre os imigrantes, ex-escravos e brasileiros só ocorria mesmo nos bairros mais pobres e fabris como Barra Funda, Brás e Bixiga.

O fato do convívio entre todos só ocorrer nas áreas mais pobres, fez com que o samba que chegava pelos migrantes das fazendas do interior ficasse conhecido como uma samba de trabalho, durão, puxado para o batuque, como era o ritmo dos trabalhadores das fábricas recém surgidas em São Paulo.

E é nesta época, que começa a relação entre o carnaval/samba com o direito, uma vez que os sambistas, não só durante a época do carnaval, mas durante o ano inteiro, eram vistos como vagabundos pela polícia e sofriam uma repressão dura das autoridades.

O carnaval Paulistano era na época um carnaval de rua aonde pequenas concentrações de pessoas, normalmente familiares, iam à rua para comemorar e ficavam cantando, tocando e bebendo até o dia clarear, ou serem presos pelo resto da noite. Porém já se esboçava um aperfeiçoamento disso e foi em 1914 quando foi fundado o Grupo da Barra Funda, o primeiro cordão de São Paulo que posteriormente viraria o Camisa Verde e Branco.

Este cordão passou a tocar marchas cariocas remodeladas ao modo paulista de se tocar samba e saía pela rua com instrumentos chamando a população para vê-los. Um exemplo de versos do Grupo da Barra Funda era:

Minha gente saia fora
Da janela, venha ver
O Grupo da Barra Funda
Ta querendo aparecer

Cantamos todos com a voz aguda
Trazendo vivas ao Grupo da Barra Funda!


Muitos outros cordões foram surgindo influenciados pelo sucesso do primeiro como foi o caso do Vai-Vai. Os cordões desfilavam paralelamente e em harmonia até que em 1934 a prefeitura municipal de São Paulo interferiu pela primeira vez no carnaval paulistano promovendo um desfile entre os cordões existentes.

Os cordões foram por anos os responsáveis pela musicalidade operária paulistana e pelo desenvolvimento do samba paulistano, até que em 1950, inspirado nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro que vinham se apresentar em SP. Os primeiros desfiles eram dominados pelas tradicionais Escolas de Samba Lavapés, Unidos do Peruche e Nenê de Vila Matilde.

O samba ia crescendo cada vez mais até que uma sanção que regulava a promoção do carnaval pela Prefeitura de São Paulo marcou de vez o crescimento do carnaval em São Paulo. E assim o carnaval foi crescendo até o que é hoje em dia e teve o seu primeiro desfile em 1968.

Borges, fica cherando cana aí!
vamo posta o que quise que ele nao ta aqui pra ve